Grupo Comunitário do dia 07 de Agosto de 2012


Grupo Comunitário de Saúde Mental – 07-08-12

Grupo Comunitário de Saúde Mental● terça-feira, 7 de agosto de 2012

 

Comecei o grupo de hoje meio dispersa e distante. Mas de repente, a beleza dos versos de uma música me trouxe de volta. Uma participante levou para o grupo a música Aquarela:

 

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo

 

Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva

 

Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu

 

Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar...

 

Ela nos disse que diante de sua doença passou a ver muito sentido nesta música “porque ela falava sobre construir algo maior a partir de pequenas coisas”.

Fiquei pensando em como era bom que existisse um artista capaz de falar da possibilidade de sonhar de uma maneira tão bonita a ponto de nos encantar, e realmente nos inspirar a sonhar. Pensei que era um privilégio ouvir ali uma música já tão conhecida e perceber isto.

Uma participante falou de sua satisfação em retomar sua vida depois de superar uma grave depressão, que a colocou diante de uma tentativa de suicídio. Ela contou de quando descobriu, ao longo de seu tratamento, que não estava tudo perdido e de como era bom se ver agora, voltando a compartilhar sua vida com a filha.

Outro participante nos contou que após uma noite de trabalho na cidade de seus pais, já se preparava pra voltar para sua cidade, quando recebeu uma ligação de sua mãe. Ela pediu para ele passar em casa para buscar o pão que ela tinha preparado. Sua primeira reação foi dizer que não precisava, mas a mãe o perguntou: “não vale a pena?”.Ele nos disse que diante dessa pergunta pôde perceber o valor do gesto da mãe e o valor de poder encontrá-la mesmo que fosse por poucos minutos. Ao ouvir esta história, falei sobre o cuidado de minha mãe em acordar às 6 da manhã sempre que me visita pra preparar meu café, sobre meu pai que sai apressado me perguntando se ainda dá tempo de ir à padaria. Falei de como era especial esse cuidado e esse contato com eles nesses momentos.

Um participante disse que tinha acordado antes do horário e incomodado com a esposa pelo barulho, perguntou se ela não poderia levantar mais tarde e ouviu como resposta que ela tinha que preparar o café. Contou que no momento que escutou isso aquilo não tinha parecido importante, porém “agora ouvindo vocês, eu fiquei pensando não foi à – toa que acordei tão cedo”.

Ainda na atenção ao detalhe de um café da manhã, uma integrante do grupo, recuperando-se da depressão contou que tinha conseguido retomar este preparo: “Lá em casa, eu me entreguei à situação e não fazia mais nada... Agora voltei a fazer pra eles aquela vitamina que eu fazia todas as manhãs, com as frutas, farinha láctea, tudo que eles têm direito. Ai quando eles acordam e me veem na cozinha, eles perguntam se eu já estou pronta pra ir pro hospital mágico, não chamam de Hospital Dia... E é gostoso escutar isso, eu estou conseguindo fazer o que eu deixei de fazer por um bom tempo.”

Outra participante disse muito emocionada que, naquele momento, o grupo a ajudava a perceber o que realmente importava para ela no contato com sua mãe durante os preparativos de seu casamento. Ela falou que envolvida com alguns problemas desses preparativos acabou se distanciando do valor de viver aquele momento ao lado da mãe. Mas ao ouvir, ali no grupo, as histórias dos encontros com as mães, pode entender isto e resgatar o significado que aquela festa tinha para ela desde o início, que era compartilhar sua vida com as pessoas queridas:

“Já faz algum tempo que estou na preparação pro meu casamento, eu sempre vi essa preparação como uma coisa legal, uma possibilidade de estar mais perto da minha família, da família dele, eu e ele. E eu tinha medo de perder isso em algum momento, desse ano. Porque eu sabia que algumas coisas não iam dar certo, coisas técnicas de festa. E deram algumas coisas erradas e eu fiquei chateada, cheguei chateada esse final de semana, porque eram coisas importantes pra mim. Mas agora eu estou olhando para esse final de semana muito diferente. E eu vou ligar pra agradecer, porque ela queria estar junto comigo, conversando, mesmo que não tenha dado certo. É isso que conta....”

O grupo chega ao fim me lembrando do que a música Aquarela já trazia, se estamos realmente vivos e atentos às pequenas coisas, é possível sonhar a partir da realidade que se tem e ver a vida acontecendo.

 

Josiane

 



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