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Grupo Comunitário de Saúde Mental – 07/05/13


Acontecer. Um dos significados desse verbo é "suceder inesperadamente". Nesse sentido, no Grupo Comunitário do dia 7 de Março de 2013, algo aconteceu. Enquanto ouvia o relato de outros participantes do grupo, uma memória ressurgiu: me lembrei do encontro que tivera na noite anterior com amigos no apartamento para o qual me mudei recentemente. O pretexto da vinda era comemorar a compra do sofá e televisão para a sala, mas o verdadeiro valor revelado daquele encontro (e percebido de forma inesperada durante o grupo) fora a simples, mas rica possibilidade de receber os amigos na minha casa nova.
Enquanto narrava a minha história e a nova percepção adquirida naquele momento, outros participantes do grupo também reavivaram algumas memórias (recentes ou já antigas até) e puderam ressignificá-las. E outros se seguiram a eles, numa reação em cadeia movida pela espontaneidade.
Ao olhar para algo já vivido e poder vê-lo de uma forma nova, senti felicidade, alívio, revelação. Assistir aos outros fazendo o mesmo, potencializou essa sensação e eu fui arrebatada por aquela experiência. Arrebatada mesmo, como se tivesse tido os meus pés tirados do chão, levados por um vento forte e fresco, que soprou a poeira dos meus sentimentos e refrescou a minha mente. Nesta hora, me lembrei de uma música de Dario Marianelli para o clássico Orgulho e Preconceito.


A cena em que ela é tocada representa o momento em que a heroína percebe um novo significado para o comportamento do mocinho e a partir do qual ela muda as suas atitudes, e com isso, o final da história.
Essa música para mim ilustra a sensação de ser arrebatado pelo inesperado, representa o abrir dos olhos para enxergar de uma forma nova algo que já estava ali. Momentos como esse se tornaram mais frequentes desde que comecei a frequentar o Grupo Comunitário, acontecendo não só dentro do grupo, mas me surpreendendo nas mais diversas situações. Eles me permitem reviver e reinventar. E me enriquecem ainda mais, quando é possível compartilhá-los com outras pessoas, e viver e aprender também a partir de suas experiências.


--Marília

Grupo de 30 de abril de 2013


“Repare”

No grupo de hoje uma das participantes, trouxe um pensamento de Drumond: “Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata!”. Comentou sobre o risco das coisas passarem despercebidas, mas ao contrário, podem nos marcar, de modo a ficar “tatuadas no coração da gente”. Neste sentido, lembra-se do conselho da avó: “Repare!”.
Acredito que este chamado de atenção resume a beleza do caminho do trabalho que percorremos nesta manhã: nós reparamos... 
Logo no começo do grupo, na parte do Sarau, reparamos na tirinha, carinhosamente distribuída por uma participante com a foto que trazia a simplicidade de um banho e a expressão alegre de uma criança, acompanhada das palavras de Gandhi.






"Se eu pudesse deixar algum presente a você... Deixaria a consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora. Deixaria a capacidade de escolher novos rumos. Deixaria para você se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável: Além do pão, o trabalho. Além do trabalho, a ação. Deixaria aceso o sentimento de amar a vida”. 

(Gandhi)

Escutamos o comentário dela sobre esta tirinha: “A importância da gente abrir os olhos, tentar olhar para a vida, tentar ver as coisas que a vida nos oferece, de ensinamento, de lição de vida, para que a gente possa abrir o coração... A expressão de felicidade do menino com uma pessoa dando banho nele, e dando banho de caneca, nem água encanada tem, e essa alegria dele, por estar recebendo aquela água, aquele banho... A felicidade está escondida nas coisas mais simples da vida, como sentir a água no corpo”.
Ouvimos uma mensagem que instruía a “vencer a si mesmo” e outra afirmando que “a chave para vencer vem do amor”.
Vimos a estudante que contou do programa que assistiu na televisão, descobrindo um surfista que se salvou de um ataque de tubarão, mas que perdeu um braço. Reparei no entusiasmo dela ao perceber a grande vontade de viver daquele rapaz. Ao ponto dela afirmar: “Fiquei pensando como o ser humano tem vontade de viver. Vi muito evidente como a vontade de viver é absoluta. Ele não tem o braço, mas acho que não reclama porque olha como um marco de uma vitória que viveu”. Reparei como as pessoas podem aproveitar um programa de televisão para pensar: “Refleti sobre as cicatrizes que muitas vezes a gente tem e que contribuem para outras experiências”.
Escutamos a leitura de uma mensagem de gratidão, lida por uma das usuárias do hospital, comentando sobre um momento difícil dentro do seu tratamento: “Só eu vi o semblante angelical de cada um de vocês quando me viu chorando e o respeito que vocês tiveram com meu sofrimento. Pude perceber a vontade latente de cada um de poder fazer alguma coisa por mim. O jeito de vocês lidarem com a gente desfaz qualquer sintoma esquizofrênico paranoico, eu garanto. Consigo ver claramente como vocês querem o meu bem e estão fazendo o que podem”. Ela conclui seu relato, contando que o choro que começou motivado pelo sofrimento, acabou misturado pela emoção diante da compaixão que foi percebendo nas pessoas.
Ouvimos o relato de um participante que perdeu o tio por suicídio. Contou que julgava ter um contato restrito com ele porque os encontros se limitavam a poucas conversas sobre músicas, mas percebeu que estava enganado: “Quando eu perdi ele, eu vi que às vezes você não percebe, mas tem um apego grande com a pessoa”. Recorda-se de ver pessoas tratando mal os outros e critica a sociedade onde cada um vive por si, concluindo que com mais ajuda, a história do tio poderia ter sido diferente.
Escutamos ainda uma história que começou com um sangramento persistente após um tratamento dentário. A participante conta que depois de esgotar tentativas de colocar gelo no local, mesmo receosa de causar incômodo ao profissional, telefonou em busca de orientação. Recebeu muito mais que do que esperava, ganhou a visita dele e melhorou do sintoma e, mais que isso, uma inesperada gratidão do profissional pela oportunidade de realizar seu trabalho: “Muito obrigado pela oportunidade”. Reparei na surpresa dela diante do fato: “Ele ainda agradece! Aquilo me deixou chapada! Que lição!”.
Fiquei pensando que ele havia tratado mais do que o dente dela, tinha tratado a todos nós da ignorância sobre o significado de um trabalho vivido como vocação. Esta história me ajudou a perceber e agradecer a duas profissionais do hospital, presentes no grupo, com quem também tenho aprendido muito sobre a dedicação ao trabalho.
Diante dos depoimentos, reparei na gratidão que foi tomando conta de nós. Conclui que enquanto houver pessoas generosas o grupo seguirá existindo. Reparei que participando do grupo, muitas vezes nos sentimos convidados ao silêncio, percebendo que precisamos de tempo para cuidar dos presentes que chegam.

Sérgio

Grupo 26 de março de 2013


        Festa sem salgadinhos! Ou melhor: Tem salgadinho sim! Aqui um alimenta o outro! O cardápio é variado!

Hoje eu fui ao Grupo Comunitário depois de muito tempo sem poder ir por causa das aulas na faculdade que batem com o horário. O primeiro momento foi o SARAU, onde cada um pode partilhar música, poema, alguma frase ou texto que foram preciosos e que despertaram o desejo de levar para o grupo. Eu li uma música de Nelson Cavaquinho que se chama Minha Festa:

Graças a Deus,
Minha vida mudou
Quem me viu,
Quem me vê
A tristeza acabou
Contigo aprendi a sorrir
Escondeste o pranto de quem sofreu tanto
Organizaste uma festa em mim
É por isso que eu canto assim.

O autor do livro que citava a letra dizia (e eu aproveitei para ler também): Em Minha Festa a vida aparece como acontecimento de encontros e descobertas. Este samba é de gratidão e amor pelo encontro que poucas vezes é expresso na música brasileira. Tinha pensado em trazer aquela música porque me lembrava de como sempre o grupo me proporcionava essa festa!
Pediram para que eu explicasse melhor por que uma festa se lá no grupo não tinha salgadinho, nem balões, nem doces. Disse a eles que naquele dia mesmo isso tinha ficado claro pra mim porque logo que acordei estava chovendo e por um momento pensei que poderia dormir ao invés de ter o trabalho de ir até o Hospital Dia com aquele tempo. Acabei levantando e me arrumando, mas minha certeza de que deveria ir por pouco não se foi quando perdi o ônibus, tendo que ir à pé na chuva. Havia algo mais forte que me arrastava apesar do mau humor. Quando estava chegando lá avistei minha amiga com quem combinei de ir junta e senti uma grande alegria por ter acordado. Essa alegria virou definitivamente uma festa quando encontrei na sala de espera a Emiliana, companheira de grupo que eu não via há muito tempo. Entendi que a festa acontecia em mim naquele momento, e estando com tantas pessoas que eu não conhecia, mas que estavam ali comigo! Como a Malu disse me corrigindo: "Aqui é uma festa sim! Tem salgadinho sim, porque aqui um alimenta o outro: o cardápio é variado!". O Grupo foi mesmo esta festa! Emiliana nos trouxe uma música de Roberto Carlos, dizendo traduzir o que ela sentia sempre no Grupo:
 
Quando eu estou aqui
Eu vivo esse momento lindo
Olhando pra você
E as mesmas emoções
Sentindo...
São tantas já vividas
São momentos
Que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui...
Amigos eu ganhei
Saudades eu senti partindo
E às vezes eu deixei
Você me ver chorar sorrindo...
Sei tudo que o amor
É capaz de me dar
Eu sei já sofri
Mas não deixo de amar
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...
São tantas já vividas
São momentos
Que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui...
Mas eu estou aqui
Vivendo esse momento lindo
De frente pra você
E as emoções se repetindo
Em paz com a vida
E o que ela me traz
Na fé que me faz
Otimista demais
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...
Ela então contou a todos como vem participando do Grupo há três anos! Guardando os folhetinhos com carinho junto com uma história da sua vida! De fato, com ela eu também vivi tantas emoções! Chorei e sorri!
Malu aproveitou o momento e ajudou a trazer ainda mais beleza para a nossa festa. Distribuiu para todos um papelzinho com uma foto de dois idosos abraçados e a seguinte frase ao lado: A vida não é medida pelas respirações que tomamos, mas pelos momentos que tiram o nosso ar. Quantos momentos que "tiram seu ar" você vem se permitindo viver? E nos contou a história daquele casal: ele possui um diário que conta sua história desde o primeiro encontro com sua esposa, que agora sofria de Alzheimer não recordando mais de nada. Ele, com um amor que havia tocado primeiro Malu e agora todos nós, ia todos os dias contar a ela trechos do diário e da caminhada que haviam feito naqueles 70 anos de casados. Ela nos disse: “Quero aprender com Jack a amar assim”. Era um pedido sincero que colocado ali entre nós, nos fazia desejar junto. Disse-nos ainda como Jack tinha a ajudado a fazer um encontro bonito com o filho na noite passada, quando lembrando daquele amor infinito, resolveu contar a ele toda a sua história, as dificuldades, as alegrias! No fim, ele havia lhe dito que percebia o quanto ela o amava por lembrar de tudo daquele jeito.
Como vocês podem ver, muitos salgadinhos estavam sendo distribuídos ali! O final da festa tinha deixado no ar muitos balões que espalharam cor e companhia a quem lá esteve. Não pude deixar de levar e oferecer aquela festa o dia todo, para quem eu encontrei e depois, para quem puder ler este blog. 
O gosto ainda permanece! Obrigada a todos!
Giovanna
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O convite para prestar atenção na vida pressupõe uma espera por algo que a vida pode apresentar de positivo. Esta proposta movimenta o Grupo Comunitário e, repetida a cada semana, nos ajuda a internalizar uma adequada expectativa diante de nós mesmos e dos acontecimentos: expectativa de festa.
Uma perspectiva presente logo na primeira música trazida ao grupo e compreendida enquanto possibilidade de encontrar as pessoas. Fato confirmado por outra integrante: “O grupo é gente alimentando gente”.
Compreendemos melhor isso, a partir da história lida na internet e contada por uma participante:

O inglês Jack Potter não quer que sua esposa Phyllis esqueça o amor que os une há mais de 70 anos. Sabendo que Phyllis sofre de demência e falta de memória, o homem visita todos os dias a casa de repouso na cidade de Rochester, Inglaterra, e lê para ela o diário que guarda desde o dia em que se conheceram.

O inglês, de 91 anos, disse ao jornal Daily Mail Online que lembra exatamente do momento em que os dois se cruzaram, num baile. Foi em 1941 (casaram em 1943) e no diário escreveu: “Foi uma noite muito agradável. Dancei com uma garota muito legal. Espero encontrá-la novamente”.

Esses e outros momentos, como o casamento, as férias, as fotografias e todos os momentos partilhados a dois, estão nesse diário que Jack faz questão de ler para sua esposa demente. Apesar de debilitada, Phyllis se esforça para abraçar o marido. Eles festejaram 70 anos de casamento.

O que me tocou não foi somente esta história contada no grupo, mas sobretudo a conclusão de quem contou: “Eu queria muito saber amar como este cara”. Ela trouxe ainda uma filipeta, com a qual presenteou a cada integrante:

A vida não é medida pelas respirações que tomamos,
mas pelos momentos que tiram nosso ar!

            Mais uma vez fiquei tocado não somente pela frase, mas pelo comentário dela: “A gente precisa ficar sem ar um pouco mais de vezes. Essa falta de ar momentânea faz com que o cérebro funcione melhor, o coração bata mais forte e a gente se situe melhor perante a vida”.
Algo semelhante foi relatado no grupo por um estudante, diante da identificação e surpresa com uma professora que conheceu em um programa de TV. Ele contou que ao ouvir aquela entrevista sentiu como se a pessoa tivesse colocado “fogo” nele, desligou a TV e quis estudar...
Ao final do grupo, percebia que algumas pessoas tinham suas dificuldades e sofrimentos, porém possuíam este “material inflamável”, capaz de “pegar fogo” com algo que encontravam. Desta forma, era possível até mesmo falar em festa, como disse uma participante, justificando seu retorno ao grupo, depois de um período ausente: “Senti falta da festa que vivi aqui dentro”.
Sergio

Ilustração:
Foto de Jack com a esposa e foto do diário.







Grupo do dia 12 de março


Adesão à Realidade

Percebo que a participação nos grupos tem ajudado a desenvolver um maior envolvimento com a realidade, parece que ganhamos uma espécie de cola, que nos ajuda a se tornar mais apegados aquilo que ocorre no dia a dia. Desta forma, considero um privilégio a oportunidade nos dar conta, a cada semana, da maneira como vamos sendo constituídos a partir de nossas vivências.
A proposta dos grupos, afirma o desejo de que a vida não passe despercebida, tornando-se apenas uma trajetória rumo ao envelhecimento, mas ao contrário seja caminho de experiência e amadurecimento.

No grupo de hoje, logo de início, recebemos o presente de uma filipeta, carinhosamente preparada por uma integrante e entregue a cada um dos presentes:

I

"A vida é mesmo um não saber absoluto e imenso, como uma folha em branco. Mas, eu prefiro imaginá-la como um grande tapete vermelho estendido a minha frente, me oferecendo possibilidades, me convidando a fazer história, me dando rumo, prumo e jeito. Eu sinto como se a cada passo, algo extraordinário estivesse prestes a acontecer. Sempre prestes. E está.”
Gabriela Castro



            A participante destaca a possibilidade de olhar para a vida “como um tapete vermelho, que está convidando a caminhar e fazer a história”. Explica que associou o texto a frase de Victor Hugo porque “se a gente quer fazer história, tem que dar e receber, porque ai a gente cresce junto”.

A perspectiva de viver plenamente a vida e não “ficar dormindo” foi traduzida na lembrança de uma música cantada por um dos participantes:

Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia
Eu não encho mais a casa de alegria
Os anos se passaram enquanto eu dormia
E quem eu queria bem me esquecia
Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar...


E no comentário de outro participante: no comentário de um participante: “no meio de tantas coisas, se a gente não estiver atento, não estiver vivo, não vai perceber essas pérolas ai no meio. É mais comum a gente passar batido de um monte de coisas no nosso dia”.
Na trilha da atenção aos detalhes, a recente comemoração do Dia da Mulher foi motivo do relato comovido de uma participante. Ela relatou a lembrança do irmão “que não tem tempo pra nada, é muito corrido, sempre tão ocupado de trabalho”, mas que mandou uma mensagem porque “tinha que lembrar das mulheres mais importantes da vida dele”.
Ao longo do grupo, várias experiências de superação foram relatadas, permitindo que uma participante concluísse: “Uma brecha de luz, passando por um espaço bem pequenininho, dá um jeito de iluminar todo o ambiente”.
Desta forma, o grupo permitiu estar próximos a pessoas e circunstâncias, “viajando” por diversas situações, de carona na mente de quem compartilhou conosco suas experiências. Desta forma, durante o grupo, caminhamos por onde não havíamos imaginado estar. Acontecimentos ganham relevância, a partir do sentido que vai sendo descoberto e compartilhado.

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“A mente se enriquece com aquilo que recebe:o coração com aquilo que dá”
Victor Hugo

Hoje eu vim para grupo sem trazer nada, com a cabeça "cheia" de problemas, com muita raiva de coisas dando errado. Entrei no grupo com raiva. Porém aos poucos, o que estava sendo partilhado começou a achar espaço dentro de mim e a raiva e os outros sentimentos ruins foram parecendo menores, que eu estava dando mais importância a isso do que realmente eles mereciam. Entendo que um dos participantes falou: quando cultivamos algo de positivo, talvez o que há de ruim não desapareça, mas começa a ficar menor e menos importante. Então talvez tenha sido isso que aconteceu, participar do grupo me ajudou a perceber que eu que estava dando importância demais aos meus problemas. Quando uma participante falou que se sentia egoísta por não ter trazido nada, apenas recebido, eu me toquei de falar que eu também não tinha trazido nada, mas que estar ali recebendo me ajudou a perceber outras coisas, então saí mais calmo do grupo.
Roberto


Grupo Comunitário do dia 26 de Fevereiro de 2013


                A Construção de uma Obra Prima

Abrimos o grupo lembrando a necessidade de atenção para utilizarmos os acontecimentos para a construção de experiências, sobretudo a partir das circunstâncias mais simples do cotidiano.
Logo veio o relato de um participante, lembrando que no ônibus a caminho do grupo havia sentado e deixado seu violão sobre outro banco. Algum tempo depois observou a chegada de um passageiro e seu filho e, atento ao olhar deles, reconheceu que procuravam um local para sentar. Moveu-se então e retirou seu violão. Uma experiência extremamente banal, mas ilustrativa da perspectiva que cultivamos: um olhar atento ao cotidiano e capaz de perceber o olhar do outro.
O grupo seguiu com a contribuição de um poema, recitado de memória e aprendido em uma oficina onde pratica a montagem de vasos.

A beleza da flor,
Quando a fixo compenetrado
Volto a sentir
Quão profundas são
As bênçãos de Deus.
Conheci a alegria do mundo
Ao adornar minha sala
Com a camélia que floresceu
No jardim.
Aqueles que têm
O desejo ardente de se igualar
Á beleza das flores,
Possuem corações
Que a elas se assemelham
Mokiti Okada

Depoimentos seguintes mostraram pessoas em movimento:
“Eu passei por muitas experiências mais não consegui tirar o lado bom,... me tornar mais feliz, passei por experiências, mas eu não soube tirar delas algo de positivo... Parece que eu vivo no estado de semi consciência, meio que a margem da vida, os anos passam e parece simplesmente que nem passaram..., eu vivo conforme o vento tá mais forte ou mais fraco, eu sou levada, e eu quero sentir, eu quero perceber, eu quero viver plenamente então foi uma das coisas que me mandaram pra cá...”
A possibilidade de aprendizagem revelou-se de forma comovente:
“Em meio a todas as crises que eu passei, quando eu tava doente, mal, eu não entendia porque que eu vivia, eu não conseguia entender o sentido da minha vida, da minha existência no mundo, eu achava que eu não tinha valor nenhum, eu me debatia com Deus me perguntando, eu não quero viver, eu não sei porque eu vivo, eu não entendo essa vida, não sei porque eu to passando por isso.
Eu já tinha tido minhas filhas e elas iam à igreja com a minha mãe e com minha tia, e elas participam lá de várias atividades e teve um dia que ia ter uma apresentação, aí a minha tia falou assim: “As meninas estão ensaiando uma música pra cantar pra você, você vai?” Aí eu falei assim: “Ah né, sou obrigada, elas tão ensaiando”. Eu meio que fui na obrigação porque eu não via sentido na vida nem em nada, e aí quando eu vi elas cantando essa música pra mim, sabe aquilo me emocionou de uma tal maneira que eu vi através delas, que pra elas eu tinha valor, que pra elas eu era alguém, que minha vida tinha significado, igual a letra da música...”
Aos olhos do Pai
Você é uma obra-prima
Que ele planejou
Com suas próprias mãos pintou
A cor de sua pele
Os seus cabelos desenhou
Cada detalhe
Num toque de amor
Você é linda demais
Perfeita aos olhos do pai
Alguém igual a você não vi jamais
Princesa linda demais
Perfeita aos olhos do pai
Alguém igual a você não vi jamais
Nunca deixe alguém dizer
Que não é querida
Antes de você nascer
Deus sonhou com você!
Você é linda demais
Perfeita aos olhos do Pai
Alguém igual a você não vi jamais
Princesa
Aos olhos do Pai

Eu quis trazer uma música que fala que antes mesmo de eu nascer, Deus sonhou comigo, então se ele sonhou comigo antes mesmo de eu nascer, ele tem um propósito pra mim, foi aí que eu comecei a perceber e a ver, que tudo tem um propósito, que tudo é valido, que a gente tem que parar, pensar, refletir, e começar a ver a vida acontecendo.”
Neste contexto, percebi o grupo como um barco, enquanto lugar capaz de agregar pessoas em movimento. E me dei conta da direção deste movimento: torna-se “obra prima”. Percebi que a beleza e a verdade que emergiam dos relatos haviam modificado a minha maneira de perceber as pessoas do grupo e a mim mesmo. Não bastava mais dizer que podíamos ser pessoas valiosas, com potencial, etc. Compreendi que se impunha uma perspectiva mais contundente: reconhecer uma “obra prima” como horizonte da existência de cada um de nós.
Sergio

“Somos nós que fazemos a vida.. Como der, ou puder, ou quiser.” (Gonzaguinha)                                                

Terça feira, dia 26 de fevereiro, acordo pela manhã e quando me levanto da cama já esbarro o dedinho do pé na quina da porta, parando para pensar: olha a vida já começando a acontecer! Afinal, a vida acontece até nesses pequenos detalhes que deixamos passar com irrelevância e ganha importância pela lembrança: hoje é dia de Grupo Comunitário.
O tema de hoje segue falando de como experenciamos os acontecimentos e não apenas passamos por eles. Um pensamento de que não só os acontecimentos extraordinários e de grande dimensão fazem sentido, mas sim que em pequenos detalhes pode-se mudar a perspectiva de como enfrentaremos nossa vida, começando pelo dia que vivemos hoje. Isso se faz muito transparecer na primeira leitura de um poema que uma participante traz. Que surpresa! Esta mesmo esquecendo em sua casa o papel que transcrevera o poema, declamou em alto e bom som sobre a beleza da flor. Dizia ela: “Aqueles que têm o desejo ardente de se igualar à beleza das flores, possuem corações que a elas se assemelham”. Pensei em uma flor que tão frágil aparentemente, se sustenta em meio às chuvas e mantém suas pétalas intactas para deixar o mundo mais bonito. Acho que somos um pouquinho flor, nos julgando incapazes, e apenas conhecendo nossa força quando nos deparamos com dificuldades.
No decorrer do grupo, mediante a escuta de tantas experiências que me emocionavam, me deparo com outra agradável surpresa: uma participante, diga-se de passagem, recém-saída de internação, participa trazendo uma música. Ora, justo ela que nunca participou enquanto esteve internada agora traz um conteúdo de seu aprendizado e seu olhar perante a vida que acontece. Sua música dizia sobre sermos uma obra prima, que fomos planejados antes mesmo de existirmos. Mais do que o conteúdo que a música traz, pensei o quão importante não foi ouvi-la para nomear a experiência que estava vivendo no grupo de hoje, o de uma verdadeira riqueza. Riqueza de espírito, riqueza de disposição, de sinceridade, compaixão e entusiasmo, uma fortuna!
O relato das palavras da aluna que fez a transcrição de um Encontro Comunitário e disse: “Eu vi verdade nessas pessoas” foi logo em seguida rebatido: “Como é possível ver sem estar presente?” Imediatamente, recordei uma citação feita sobre o livro “O Pequeno Príncipe” e pensei em uma das frases: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”.
E diante toda essa avalanche de emoções é como se a vida me desse um chacoalhão todas as manhãs das terças feiras dizendo: “Ei, estou passando. Eu não te prometo apenas a beleza das flores no caminho, mas essa é sua oportunidade de escolher se quer vir comigo e aprender com os acontecimentos ou vai ficar ai parado, abdicando das melhores obras primas que possa encontrar”.
Natália


P.S.
“Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas não há os que não levam nada. Há os que deixam muito, mas não há os que não deixam nada. Esta é  maior responsabilidade de nossa vida e a prova evidente que nada é ao acaso”. (Antoine De Saint- Exuperty).

“A cada manhã exijo ao menos a expectativa de uma surpresa, quer ela aconteça ou não. Expectativa por si só já é um entusiasmo. Quero que o fato de que ter uma vida prática e sensata não me roube o direito ao desatino. Que eu nunca aceite a ideia de que a maturidade exige um certo conformismo”. (Martha Medeiros)

Encontro Anual dos Grupos Comunitários


 


“A Vida Acontecendo” – 14/11/12


  O tema deste ano dos Grupos Comunitários colocou em evidência “A Vida Acontecendo”. Acredito que fomos muito felizes na escolha do tema porque o trabalho proposto foi um convite para olhar a realidade, de forma atenta, ao ponto de descobrir “não como a vida ocorre, mas como ela acontece”.


Uma provocação presente já na abertura do XV Encontro Anual dos Grupos Comunitários de Saúde Mental: “não estamos habituados a ver como presença uma folha presença, uma flor presente, uma pessoa presente. Não estamos habituados a fixar como presença as coisas presentes” (Giussani, 1995). Por isso, interessava aprender a “enxergar para além do que está óbvio”, a fim de perceber a potência que a realidade oferece.

Neste percurso, compreendemos que o maior desafio era desenvolver uma atitude que permitisse “prestar atenção e deixar-se surpreender” pela vida, o que tornava essencial apoiar-se na ajuda das pessoas simples e humildes. Aqueles a quem, com a leitura da poesia de Clarice Lispector, aprendemos a nomear como “bobos”. Afinal, “o bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo... O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem... Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!”.

E como exclamamos neste encontro!!!

Verificamos que qualquer lugar comporta uma experiência valiosa e assistimos depoimentos que surgiram a partir de variadas situações cotidianas: escutando música, lendo um livro, assistindo um filme, caminhando na rua, visitando parentes, observando um jardim ou realizando um tratamento hospitalar.

O momento do sarau trouxe a descoberta de músicas e poesias capazes de trazer inspiração: “vejo alguém que algum dia em algum lugar sentiu algo que hoje me a ajuda a entender o que eu sinto, alguém que consegue falar do que sente de um jeito bonito que eu não consigo falar, mas eu tenho a sorte de ver o que esta pessoa escreveu... Os artistas podem nos ajudar a ver a vida que esta acontecendo a nossa volta”.

Fomos apresentados à gratidão diante dos pássaros que cantam “impressionados por estarem vivos”; à surpresa pela “fertilidade das folhas secas, que estavam tão lindas que brilhavam”; à esperança do doente que compreendeu que “é quase uma lei na vida, que quando uma porta se fecha, outra se abre”; ao espanto diante da beleza da flor do cacto e à paz da música que convidava a “dançar na chuva quando a chuva vem”.

Caminhamos pelas ruas da cidade até achar escrito que “existem homens que são como cana, mesmo colocados na moenda, reduzidos a bagaço, espalham doçura”. Mas compreendemos isso melhor, quando visitando uma pessoa gravemente doente descobrimos que os olhares podem carregar ternura. Por isso, entendemos quando alguém apresentou o hospital como um lugar cheio de “estrelas”, porque “a vida é uma estrela e a gente tem brilho”.

Os depoimentos revelaram o ambiente de trabalho como palco de descobertas. Uma oficina de mosaico permitiu perceber “que a vida precisava ser mais colorida” e a necessidade de “estarmos atentos todos os dias”. Mas foi em meio à tensão e ao cansaço do trabalho, que um profissional reencontrou um antigo paciente, agora melhorado, de quem ganhou um cumprimento assim descrito: “Um senhor abraço, que me quebrou”. Fato contundente o suficiente para entender que as coisas podem “ter um resultado, um motivo, um fim” e assim, se tornar “inevitável pensar em todas as escolhas feitas”.

O envolvimento com o trabalho chegou a “criar um estágio que não existia” pela importância de “encontrar um espaço que trazia de volta o que era mais humano e colocava de volta uma vida com sentido”, o que permite concluir que podemos ser modificados pela “experiência e entusiasmo dos outros” porque “o que mais importa são os encontros verdadeiros”.

O tratamento psiquiátrico foi descrito como cenário para conhecer melhor as pessoas e a si mesmo, modificando a visão anterior de que “cada um cuida da sua vida e não tem nada haver com a vida dos outros”. Tornou possível descobrir-se enquanto “uma pessoa com uma sorte imensa diante da família que não sabia ajudar, mas queria muito ajudar”, gerando gratidão por conhecer “pessoas que vão me ajudar para sempre porque vou ter elas na minha memória”.

Foram muitas histórias e o desejo de que nada fosse desperdiçado: “precisei colocar no papel porque é tanta coisa que eu tenho para dizer e é tudo tão importante que não posso esquecer nada”. Vimos a sabedoria e a gratidão que brotam da experiência: “precisei quase morrer para descobrir quanto é grande minha vontade de viver” e “estar entre pessoas que me aceitam como eu sou me deu força”.

Muito do que poderia parecer apenas o pano de fundo do cotidiano revelou uma potência construtiva. Os depoimentos tinham força porque “cada um trouxe um pedacinho importante de si” e “parecia que tudo fazia parte de mim também”, deixando a convicção de que “para a vida acontecer é preciso se deixar tocar”.

Descobrimos a atenção à realidade como caminho para a afeição a vida.

Sergio

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No XV Encontro Comunitário de Saúde Mental, intitulado, “A Vida  Acontecendo”, tive a oportunidade de entrevistar Ana Lydia Sawaya, que trabalha com a questão da desnutrição infantil e foi a fundadora, junto com alguns amigos, do Centro de Recuperação e Educação Nutricional – CREN, que recebe crianças desnutridas em regime de Hospital Dia.

Ana Lydia nos conta que há 30 anos trabalha com pessoas desnutridas e que considera uma grande injustiça uma criança passar fome e, ainda, que ficava comovida diante de tal realidade. E, assim, se move para buscar caminhos para mudar ou melhorar essa situação. Escreve o projeto que dará início a um trabalho de extensão (CREN) marcado pelo cuidado, atenção e disponibilidade para com as pessoas desnutridas. Ana transitava pela favela e relata como era feia, triste, com esgoto a céu aberto, inundações a cada chuva. E ao iniciar o trabalho com seus amigos consideram que a favela precisa de BELEZA. Montam o CREN, preocupados com cada detalhe, a escolha da porta de entrada, as cores da pintura das paredes e fazendo o que era possível para que fosse um lugar bonito. Eles compreendiam que a BELEZA é o caminho que mais corresponde à exigência do nosso coração, que nós precisamos da beleza. Ana afirma que observou que esse posicionamento gerava esperança para que as famílias pudessem operar mudanças...

A janela que se abriu, neste percurso, foi o caminho da BELEZA! Que segundo ela é um caminho antigo na história da humanidade e que a nossa cultura não valorizou. Ensinou-nos que esse caminho, homens antigos já haviam encontrado, e se chama em latim Via Pucretudines ou caminho da beleza... Também os gregos, os filósofos gregos, já tinham se despertado para esse caminho, que em grego se chama Filocalia – os amigos da BELEZA. Esse é o caminho que é possível percorrer a partir de uma tomada de posição diante da vida e da liberdade de cada pessoa. Ana provoca-nos a olhar para as coisas bonitas, como uma música, uma flor de cactos, o por do sol, entre outras. Cita Giussani que diz: que cada ser humano tem a liberdade de virar as costas para a luz e só ver a escuridão, ou virar as costas para a escuridão e ver a luz. Afirma que quem fez a nossa vida fez algo para ser olhado, para ser admirado e quando estamos diante de uma árvore florida isso enche o nosso coração e torna tudo mais leve.  Aponta que esse é o caminho, encontrar nas circunstâncias da vida, o bem, a verdade e a beleza, por mais difíceis que sejam as situações vividas. Finaliza interrogando: porque mesmo eu estando tão triste o sol insiste em nascer? Responde que tem uma coisa que é irredutível, não fui eu que fiz o sol, ele foi feito por alguém que está me dando o sol a cada manhã e eu olho para o sol e digo: OBRIGADA!!! Essa posição é um ACONTECIMENTO da vida com “A” maiúsculo, pode ser uma pessoa, uma flor, uma música, qualquer coisa que encha o nosso coração.

Na sequência do evento, tivemos a oportunidade de ouvir, o músico João di Souza, tenor lírico, que nos brindou com a BELEZA e a emoção da música de alta qualidade. João começa nos contando do trabalho que desenvolve numa comunidade terapêutica voltada para dependentes químicos, na qual afirma usar a música e beleza para despertar para a vida, e o quanto esse seu trabalho está afinado com a proposta dos Grupos Comunitários de Saúde Mental. Ensina-nos a prestar atenção em determinados detalhes da música, para que possamos aprecia-la de um jeito diferente, com mais sensibilidade... E nos convida a prestar atenção na letra da música “Sangrando”, de Gonzaguinha, feita para o seu pai “Luiz Gonzaga” e não para uma mulher, o que muda todo o sentido da música. E viajamos com ele pelo esplendor da música.

João relata de um encontro com um antigo professor que o estimula a ser cantor lírico e que se dispõe a acompanha-lo, ser seu professor, acreditando em sua carreira como cantor lírico. João faz o primeiro show como lírico, que será mais tarde um CD, gravando várias Aves Maria, segundo o cantor, como forma de agradecimento a Deus pela vocação de artista, pela voz que recebeu. Brinda-nos com uma Ave Maria que provoca um silêncio profundo nos ouvintes, diante de tamanha beleza, ou seja, quando vivemos a correspondência não existem palavras para expressá-la... O encontro foi encerrado neste contexto de GRATIDÃO, pela oportunidade de estar lá e partilhar com outros a VIDA ACONTECENDO, surpreendente, simples, singela e acima de tudo bela.

Carmen

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No começo do encontro fui atravessada por uma questão: o que estamos habituados a fixar como presença? ...Guardei esta.

Enquanto os compartilhamentos aconteciam, eu, curiosa, tentava entender o que movia alguém a descer aquela escadaria, ir ao palco, e contar corajosamente algo pequeno, alguns minutos em meio a um dia.

O risco era compartilhar algo que para um parece extraordinário, e para outro... não passa de uma bobeira.

De repente, uma dessas pessoas, movida por algo que eu ainda não sabia, declarou: sou boba!

Ri... achei uma bobeira bonita, uma bobagem alegre.

Pensei nas vantagens em ser, se assumir bobo, e na licença concedida neste momento, àquela que lhe permite qualquer bobagem, bobeira, bobice.

Segui o encontro percebendo em meu corpo como todas aquelas pequenezas vividas por outras pessoas me afetavam.

Eram dez minutos da vida de um, e um nó na minha garganta.

Um abraço na vida de outro, e meus olhos cheios de lágrimas.

O brilho de uma estrela exaltado por um, e um suspiro aqui.

Logo eu não precisava mais entender o que moviam aquelas pessoas, pois seja lá o que fosse, estava presente em mim também.

O frio na barriga aumentava a cada degrau, a emoção entre cada palavra me fazia segurar a respiração alguns segundos.

Vivendo este encontro percebi a grandiosidade de um instante, a potência do outro, de um abraço, de uma gentileza e suas ressonâncias.

Estando presente compreendi que para um encontro acontecer é necessário presença, e que nesta palavra estão contidas duas outras imprescindíveis para sua prática, doação e acolhimento.

  Caroline

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O vento que canta, a semente que germina, a vida que acontece. Disse Oscar Wilde, “viver é a coisa mais rara do mundo”.

Em Ribeirão Preto, participantes dos Grupos Comunitários reúnem-se semanalmente para compartilhar experiências. Desses encontros, surgiu um evento anual, que teve sua 15° edição realizada no dia 24 de novembro, no auditório da Faculdade de Direito da USP.

Tive a honra de estar lá para ser encantada. Com simplicidade valiosa, pessoas diferentes são convidadas a declamar poemas, apresentar músicas, ler trechos de livros preferidos e contar memórias ou fatos cotidianos. Assim, sem pretensão, uma enorme cumplicidade passa a existir entre todos que estão no auditório. Os rótulos se vão. O doutor, o paciente, o aluno e as demais profissões deixam de importar. Ficam as pessoas.

Através do outro conseguimos olhar para o eu. Como um dos participantes observou, “são gestos, falas e histórias que colocam em nossas vidas sem querer e nos fazem olhar para dentro”.

O evento é uma compilação de momentos dos grupos comunitários, que buscam estimular nosso olhar à realidade e a aprendizagem por meio do compartilhamento de vivências. São combustíveis para a vida.

“Vida que passa independente da gente, mas para ela acontecer, é preciso se deixar tocar”, disse um sábio durante o encontro.  Vida que, com suas sutilezas, está sempre nos ensinando a VIVER. Vida que pede olhar atento na construção da nossa própria poesia.

Os poetas que conheci nesse encontro já aprenderam a lição.

Néliane