Grupo Comunitário do dia 14 de Agosto de 2012


Grupo Comunitário de Saúde Mental – 14/08/12

Grupo Comunitário de Saúde Mental● terça-feira, 14 de agosto de 2012

 

Na minha experiência no grupo de hoje, o que me deu vontade de compartilhar foi que no grupo de hoje eu ganhei um ‘’vestido azul’’.

 

Eu cheguei no grupo, sentei na cadeira e fui tomada por uma vontade de não me mexer, de não pensar e ficar quieta... Mas nem deu tempo de me acomodar e logo veio a proposta de levantarmos e nos cumprimentarmos.

 

Eu então pensei comigo “nossa, isso por que eu queria ficar sentada e quieta no meu canto”. Mas levantei, sorri (sinceramente esses primeiros sorrisos foram “sociais”) e fui andando pela sala e cumprimentando as pessoas...

 

Também comecei a prestar a atenção em cada um que estava ali... notei que alguns não se locomoviam pela sala, mas, sim, ficavam parados com um sorriso esperando pelos cumprimentos, outros percorriam várias vezes a sala, com uma vontade de cumprimentar a todos e não deixar passar ninguém. Eu vi as pessoas... e também vi uma participante do grupo, que não estava podendo comparecer nos últimos grupos e percebi que sentia saudades e que eu sentia a sua falta. Eu recebi vários abraços e desejos de “um bom dia”, percebi abraços muito afetivos, sinceros... E... quando me dei conta eu estava SORRINDO e SORRINDO de verdade, naturalmente.

 

Eu pensei... que sorte a minha de estar AQUI. Eu já estava diferente, eu havia mudado da forma como eu cheguei.

 

Assim... o grupo começou e, para mim, começou não só um grupo, mas uma nova possibilidade: a de ficar aberta e em contato com quem estava ali e comigo.

 

Imagino que devam estar se perguntando, mas o que é que tem o vestido azul...

 

Vou chegar lá.

O grupo foi se desenrolando, se movimentando e tomando a sua forma, eu estava ali vivendo tudo isso, atenta. Então eu pude perceber que havia ganhado um ‘’vestido azul’’

Em um momento do grupo uma participante falou que na semana passada após ela escutar um depoimento, ela lembrou de um texto antigo que havia lido e chegando em sua casa foi reler o texto e o trouxe para ler com a gente. O nome do texto é: “A menina do vestido azul”.

E resolvi trazer o texto para compartilhar com vocês. Essa é a história contada...

                     ‘’Num bairro pobre de uma cidade distante, morava uma garotinha muito bonita. Acontece que essa menina frequentava as aulas da escolinha local num estado lamentável. Suas roupas eram tão velhas que seu professor resolveu dar-lhe um vestido novo. Assim raciocinou o mestre: "É uma pena que uma aluna tão encantadora venha às aulas desarrumada desse jeito. Talvez, com algum sacrifício, eu pudesse comprar para ela um vestido azul".

 

Quando a garota ganhou a roupa nova, sua mãe não achou razoável que, com aquele traje tão bonito, a filha continuasse a ir ao colégio suja como sempre, e começou a dar-lhe banho todos os dias, antes das aulas. Ao fim de uma semana, disse o pai: "Mulher, você não acha uma vergonha que nossa filha, sendo tão bonita e bem arrumada, more num lugar como este? Que tal você ajeitar a casa, enquanto eu, nas horas vagas, vou dando uma pintura nas paredes, consertando a cerca, plantando um jardim?"

 

E assim fez o humilde casal. Sua casa ficara mais bonita que todas as outras da rua, e os vizinhos, inspirados naquela casa, se puseram a arrumar as suas próprias moradias. Desse modo, todo o bairro melhorou consideravelmente. Por ali, passava um político que, bem impressionado, disse: "É lamentável que gente tão esforçada não receba nenhuma ajuda do governo". E, dali, saiu para ir falar com o prefeito, que o autorizou a organizar uma comissão para estudar que melhoramentos eram necessários ao bairro. Dessa primeira comissão surgiram muitas e muitas outras e hoje, por todo o país, elas ajudaram os bairros pobres a crescerem e melhorarem.

 

E pensar que tudo começou com um vestido azul. Não era intenção daquele simples professor concertar toda a rua, o bairro, nem criar um organismo que socorresse os bairros abandonados de todo o país. Mas ele fez o que podia, ele deu a sua parte, ele fez o primeiro movimento do qual se desencadeou toda aquela transformação. (Gardel Costa)’’ Acho que este texto por si só é muito rico e tem a possibilidade de ser absorvido de varias formas. Mas o que me fez refletir foi motivo pelo qual este texto foi trazido ao grupo: “a mensagem eu sempre achei interessante, como uma coisinha pequena pode gerar grandes transformações, mas o que mais me chamou a atenção foi que realmente antes eu não tinha gostado da historia... falei - nossa que historia boba... e eu lembrei dessa historia escutando na semana passado o relato sobre o náufrago, que as pessoas só de imaginar o que poderia ter sido a vida dele fizeram várias transformações e eu lembrei desse texto e fui reler e então para minha surpresa eu achei incrível esse texto, achei incrível como eu mudei meu ponto de vista em relação a esse texto’’.

 

E o coordenador do grupo complementou ‘’a historia da semana passada foi para você um vestido azul... e continuou falando que nosso trabalho no grupo é para ajudar a ganhar a capacidade de enxergar “o vestido azul”.

 

Refletindo sobre tudo isso, lembrei do inicio do grupo quando o meu primeiro impulso foi de ficar quieta e isolada e como a experiência que eu vivi ali me ajudou e transformou não só meus pensamentos naquele momento, mas também minha postura, eu passei a me sentir viva ali dentro, em contato com os outros, com a minha vida e comigo mesma. E senti muita esperança. Esperança de ter a chance de me perceber diferente, mudar, aprender, experimentar, compartilhar... VIVER a minha vida, ali, na realidade que se apresenta.

 

Então, eu queria contar para vocês que hoje, ali no grupo, eu ganhei esse‘’vestido azul’’.

 

E deixar a pergunta...

 

...Qual é o seu‘’vestido azul’’?

 

Maria Fernanda



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Grupo Comunitário do dia 07 de Agosto de 2012


Grupo Comunitário de Saúde Mental – 07-08-12

Grupo Comunitário de Saúde Mental● terça-feira, 7 de agosto de 2012

 

Comecei o grupo de hoje meio dispersa e distante. Mas de repente, a beleza dos versos de uma música me trouxe de volta. Uma participante levou para o grupo a música Aquarela:

 

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo

 

Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva

 

Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu

 

Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar...

 

Ela nos disse que diante de sua doença passou a ver muito sentido nesta música “porque ela falava sobre construir algo maior a partir de pequenas coisas”.

Fiquei pensando em como era bom que existisse um artista capaz de falar da possibilidade de sonhar de uma maneira tão bonita a ponto de nos encantar, e realmente nos inspirar a sonhar. Pensei que era um privilégio ouvir ali uma música já tão conhecida e perceber isto.

Uma participante falou de sua satisfação em retomar sua vida depois de superar uma grave depressão, que a colocou diante de uma tentativa de suicídio. Ela contou de quando descobriu, ao longo de seu tratamento, que não estava tudo perdido e de como era bom se ver agora, voltando a compartilhar sua vida com a filha.

Outro participante nos contou que após uma noite de trabalho na cidade de seus pais, já se preparava pra voltar para sua cidade, quando recebeu uma ligação de sua mãe. Ela pediu para ele passar em casa para buscar o pão que ela tinha preparado. Sua primeira reação foi dizer que não precisava, mas a mãe o perguntou: “não vale a pena?”.Ele nos disse que diante dessa pergunta pôde perceber o valor do gesto da mãe e o valor de poder encontrá-la mesmo que fosse por poucos minutos. Ao ouvir esta história, falei sobre o cuidado de minha mãe em acordar às 6 da manhã sempre que me visita pra preparar meu café, sobre meu pai que sai apressado me perguntando se ainda dá tempo de ir à padaria. Falei de como era especial esse cuidado e esse contato com eles nesses momentos.

Um participante disse que tinha acordado antes do horário e incomodado com a esposa pelo barulho, perguntou se ela não poderia levantar mais tarde e ouviu como resposta que ela tinha que preparar o café. Contou que no momento que escutou isso aquilo não tinha parecido importante, porém “agora ouvindo vocês, eu fiquei pensando não foi à – toa que acordei tão cedo”.

Ainda na atenção ao detalhe de um café da manhã, uma integrante do grupo, recuperando-se da depressão contou que tinha conseguido retomar este preparo: “Lá em casa, eu me entreguei à situação e não fazia mais nada... Agora voltei a fazer pra eles aquela vitamina que eu fazia todas as manhãs, com as frutas, farinha láctea, tudo que eles têm direito. Ai quando eles acordam e me veem na cozinha, eles perguntam se eu já estou pronta pra ir pro hospital mágico, não chamam de Hospital Dia... E é gostoso escutar isso, eu estou conseguindo fazer o que eu deixei de fazer por um bom tempo.”

Outra participante disse muito emocionada que, naquele momento, o grupo a ajudava a perceber o que realmente importava para ela no contato com sua mãe durante os preparativos de seu casamento. Ela falou que envolvida com alguns problemas desses preparativos acabou se distanciando do valor de viver aquele momento ao lado da mãe. Mas ao ouvir, ali no grupo, as histórias dos encontros com as mães, pode entender isto e resgatar o significado que aquela festa tinha para ela desde o início, que era compartilhar sua vida com as pessoas queridas:

“Já faz algum tempo que estou na preparação pro meu casamento, eu sempre vi essa preparação como uma coisa legal, uma possibilidade de estar mais perto da minha família, da família dele, eu e ele. E eu tinha medo de perder isso em algum momento, desse ano. Porque eu sabia que algumas coisas não iam dar certo, coisas técnicas de festa. E deram algumas coisas erradas e eu fiquei chateada, cheguei chateada esse final de semana, porque eram coisas importantes pra mim. Mas agora eu estou olhando para esse final de semana muito diferente. E eu vou ligar pra agradecer, porque ela queria estar junto comigo, conversando, mesmo que não tenha dado certo. É isso que conta....”

O grupo chega ao fim me lembrando do que a música Aquarela já trazia, se estamos realmente vivos e atentos às pequenas coisas, é possível sonhar a partir da realidade que se tem e ver a vida acontecendo.

 

Josiane

 



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