Grupo Comunitário do dia 26 de Fevereiro de 2013


                A Construção de uma Obra Prima

Abrimos o grupo lembrando a necessidade de atenção para utilizarmos os acontecimentos para a construção de experiências, sobretudo a partir das circunstâncias mais simples do cotidiano.
Logo veio o relato de um participante, lembrando que no ônibus a caminho do grupo havia sentado e deixado seu violão sobre outro banco. Algum tempo depois observou a chegada de um passageiro e seu filho e, atento ao olhar deles, reconheceu que procuravam um local para sentar. Moveu-se então e retirou seu violão. Uma experiência extremamente banal, mas ilustrativa da perspectiva que cultivamos: um olhar atento ao cotidiano e capaz de perceber o olhar do outro.
O grupo seguiu com a contribuição de um poema, recitado de memória e aprendido em uma oficina onde pratica a montagem de vasos.

A beleza da flor,
Quando a fixo compenetrado
Volto a sentir
Quão profundas são
As bênçãos de Deus.
Conheci a alegria do mundo
Ao adornar minha sala
Com a camélia que floresceu
No jardim.
Aqueles que têm
O desejo ardente de se igualar
Á beleza das flores,
Possuem corações
Que a elas se assemelham
Mokiti Okada

Depoimentos seguintes mostraram pessoas em movimento:
“Eu passei por muitas experiências mais não consegui tirar o lado bom,... me tornar mais feliz, passei por experiências, mas eu não soube tirar delas algo de positivo... Parece que eu vivo no estado de semi consciência, meio que a margem da vida, os anos passam e parece simplesmente que nem passaram..., eu vivo conforme o vento tá mais forte ou mais fraco, eu sou levada, e eu quero sentir, eu quero perceber, eu quero viver plenamente então foi uma das coisas que me mandaram pra cá...”
A possibilidade de aprendizagem revelou-se de forma comovente:
“Em meio a todas as crises que eu passei, quando eu tava doente, mal, eu não entendia porque que eu vivia, eu não conseguia entender o sentido da minha vida, da minha existência no mundo, eu achava que eu não tinha valor nenhum, eu me debatia com Deus me perguntando, eu não quero viver, eu não sei porque eu vivo, eu não entendo essa vida, não sei porque eu to passando por isso.
Eu já tinha tido minhas filhas e elas iam à igreja com a minha mãe e com minha tia, e elas participam lá de várias atividades e teve um dia que ia ter uma apresentação, aí a minha tia falou assim: “As meninas estão ensaiando uma música pra cantar pra você, você vai?” Aí eu falei assim: “Ah né, sou obrigada, elas tão ensaiando”. Eu meio que fui na obrigação porque eu não via sentido na vida nem em nada, e aí quando eu vi elas cantando essa música pra mim, sabe aquilo me emocionou de uma tal maneira que eu vi através delas, que pra elas eu tinha valor, que pra elas eu era alguém, que minha vida tinha significado, igual a letra da música...”
Aos olhos do Pai
Você é uma obra-prima
Que ele planejou
Com suas próprias mãos pintou
A cor de sua pele
Os seus cabelos desenhou
Cada detalhe
Num toque de amor
Você é linda demais
Perfeita aos olhos do pai
Alguém igual a você não vi jamais
Princesa linda demais
Perfeita aos olhos do pai
Alguém igual a você não vi jamais
Nunca deixe alguém dizer
Que não é querida
Antes de você nascer
Deus sonhou com você!
Você é linda demais
Perfeita aos olhos do Pai
Alguém igual a você não vi jamais
Princesa
Aos olhos do Pai

Eu quis trazer uma música que fala que antes mesmo de eu nascer, Deus sonhou comigo, então se ele sonhou comigo antes mesmo de eu nascer, ele tem um propósito pra mim, foi aí que eu comecei a perceber e a ver, que tudo tem um propósito, que tudo é valido, que a gente tem que parar, pensar, refletir, e começar a ver a vida acontecendo.”
Neste contexto, percebi o grupo como um barco, enquanto lugar capaz de agregar pessoas em movimento. E me dei conta da direção deste movimento: torna-se “obra prima”. Percebi que a beleza e a verdade que emergiam dos relatos haviam modificado a minha maneira de perceber as pessoas do grupo e a mim mesmo. Não bastava mais dizer que podíamos ser pessoas valiosas, com potencial, etc. Compreendi que se impunha uma perspectiva mais contundente: reconhecer uma “obra prima” como horizonte da existência de cada um de nós.
Sergio

“Somos nós que fazemos a vida.. Como der, ou puder, ou quiser.” (Gonzaguinha)                                                

Terça feira, dia 26 de fevereiro, acordo pela manhã e quando me levanto da cama já esbarro o dedinho do pé na quina da porta, parando para pensar: olha a vida já começando a acontecer! Afinal, a vida acontece até nesses pequenos detalhes que deixamos passar com irrelevância e ganha importância pela lembrança: hoje é dia de Grupo Comunitário.
O tema de hoje segue falando de como experenciamos os acontecimentos e não apenas passamos por eles. Um pensamento de que não só os acontecimentos extraordinários e de grande dimensão fazem sentido, mas sim que em pequenos detalhes pode-se mudar a perspectiva de como enfrentaremos nossa vida, começando pelo dia que vivemos hoje. Isso se faz muito transparecer na primeira leitura de um poema que uma participante traz. Que surpresa! Esta mesmo esquecendo em sua casa o papel que transcrevera o poema, declamou em alto e bom som sobre a beleza da flor. Dizia ela: “Aqueles que têm o desejo ardente de se igualar à beleza das flores, possuem corações que a elas se assemelham”. Pensei em uma flor que tão frágil aparentemente, se sustenta em meio às chuvas e mantém suas pétalas intactas para deixar o mundo mais bonito. Acho que somos um pouquinho flor, nos julgando incapazes, e apenas conhecendo nossa força quando nos deparamos com dificuldades.
No decorrer do grupo, mediante a escuta de tantas experiências que me emocionavam, me deparo com outra agradável surpresa: uma participante, diga-se de passagem, recém-saída de internação, participa trazendo uma música. Ora, justo ela que nunca participou enquanto esteve internada agora traz um conteúdo de seu aprendizado e seu olhar perante a vida que acontece. Sua música dizia sobre sermos uma obra prima, que fomos planejados antes mesmo de existirmos. Mais do que o conteúdo que a música traz, pensei o quão importante não foi ouvi-la para nomear a experiência que estava vivendo no grupo de hoje, o de uma verdadeira riqueza. Riqueza de espírito, riqueza de disposição, de sinceridade, compaixão e entusiasmo, uma fortuna!
O relato das palavras da aluna que fez a transcrição de um Encontro Comunitário e disse: “Eu vi verdade nessas pessoas” foi logo em seguida rebatido: “Como é possível ver sem estar presente?” Imediatamente, recordei uma citação feita sobre o livro “O Pequeno Príncipe” e pensei em uma das frases: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”.
E diante toda essa avalanche de emoções é como se a vida me desse um chacoalhão todas as manhãs das terças feiras dizendo: “Ei, estou passando. Eu não te prometo apenas a beleza das flores no caminho, mas essa é sua oportunidade de escolher se quer vir comigo e aprender com os acontecimentos ou vai ficar ai parado, abdicando das melhores obras primas que possa encontrar”.
Natália


P.S.
“Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas não há os que não levam nada. Há os que deixam muito, mas não há os que não deixam nada. Esta é  maior responsabilidade de nossa vida e a prova evidente que nada é ao acaso”. (Antoine De Saint- Exuperty).

“A cada manhã exijo ao menos a expectativa de uma surpresa, quer ela aconteça ou não. Expectativa por si só já é um entusiasmo. Quero que o fato de que ter uma vida prática e sensata não me roube o direito ao desatino. Que eu nunca aceite a ideia de que a maturidade exige um certo conformismo”. (Martha Medeiros)

Um comentário:

  1. Sou filha de uma paciente que frequenta o grupo, a Lucia Ap. Ricardo. Um tempo atras, eu e meu marido Aristides, frequentamos e vimos o quanto é importante para os familiares e pacientes que participam, pois é muito interessante a troca de experiências e idéias compartilhadas...muitas vezes nos vimos nas situações que outras famílias estavam passando. Parabéns pela iniciativa do blog pois assim podemos acompanhar mesmo que a distância. Quero aproveitar e compartilhar que minha mãe está entrando numa crise e peço que o grupo ore e torça para ela se recupere o quanto antes... Obrigada pelo apoio e fiquem com Deus! Abraços, Karina Figueiredo dos Santos

    ResponderExcluir