Hoje o encontro foi diferente,
aconteceu em outro horário e contou com rostos novos que formaram um grupo
numeroso com cerca de cinquenta pessoas. Entre elas havia como convidada a Maria
Teresa Ferla, diretora de um serviço de Saúde Mental em Milão, na Itália.
O encontro seguiu como de costume, a primeira parte foi
iniciada por um poema muito bonito composto por uma das integrantes do grupo
chamado: “Se meu corpo fosse um poema o que eu diria?” Ao declamar o poema ela
nos contou um pouco de sua história como mãe de um paciente e nos comoveu com a
força que demonstrou através da busca de suporte e conhecimento. O coordenador
nos chamou a atenção para essa busca como uma forma da vida acontecendo.
Outro participante trouxe uma música da banda Os
Paralamas do Sucesso. Ele sublinhou os versos:
“Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu
passado passar por mim
Cartas e
fotografias gente que foi embora
A casa fica bem
melhor assim”
E contou
que fizeram com que se lembrasse do que sua irmã que sempre dizia sobre deixar
para trás tudo que fosse ruim para que outras coisas boas pudessem vir. Ele
comentou: “A casa é como se fosse a gente
e vamos jogando as idéias, as mágoas embora”.
Esse momento inspirou outra fala: “A música que o Henrique trouxe, chamou minha
atenção porque veio de encontro com uma coisa que estou vivendo (...)”. Ele
nos contou em seguida sobre a descoberta que havia feito nos últimos dias de
características pessoais que o incomodavam, mas que ele tinha deixado “estagnado”
e falou sobre a decisão que tinha tomado, havia poucos dias, de mudar. Fez
referência ao verso:
“Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua
Merecia a
visita não de militares,
Mas de
bailarinos”
E falou de
como podemos usar nossa criatividade para fazer as coisas diferentes e
inclusive para superar aspectos nossos que sempre foram de um determinado
jeito.
Outro participante trouxe um poema
de sua autoria chamado Cadência
O coordenador comentou: “Esse poema nos ajuda a entender um pouco do
trabalho que fazemos aqui. As estrelas estão sempre aí, a nossa vida está
sempre acontecendo, mas precisamos do grupo pra nos ajudar a perceber isso”. Disse,
então, que a poesia só foi feita porque aquele participante soube olhar para as
estrelas e que nós podemos passar anos sem vê-las, mesmo elas estando sempre
aí, por isso esse era um dos objetivos do nosso trabalho, aprender a olhar.
Uma das participantes encorajou a
todos em seguida a não deixarem de acreditar, pois, segundo ela, é possível
encontrar essas estrelas mesmo quando a escuridão está permeando as nossas
vidas. Ela relatou emocionada a sua experiência de melhora da doença: “O sol brilhou, a estrela brilhou e nós
estamos felizes pelo que está acontecendo”.
No decorrer do grupo outras estrelas surgiram, o trabalho de uma
ex-paciente, que tem ajudado a aumentar sua auto-estima; um momento difícil de
retorno para a cidade com suas escolhas e desafios se dando como um “grito de
independência; a sensibilidade de um paciente que tocou uma das funcionárias a
ponto de afastar seu mau humor; a alegria de uma mãe ao ver seu filho
conseguindo prosseguir com os estudos; momentos difíceis acompanhando o pai com
problemas na saúde, mas que trouxeram descobertas.
O grupo chegou ao fim com muitas contribuições,
trocas sinceras e descobertas que tocaram os presentes. A convidada Maria
Teresa fez comentários sobre sua experiência como participante e trouxe um agradecimento humilde e
comovente:
“Eu que vim da Itália para falar do
sofrimento psíquico, vi uma esperança... de pessoas que acreditam no encontro,
na relação e que, em particular, acreditam que no sofrimento mental tem algo a
mais.
O sofrimento nos faz ser mais autênticos, nos tira as
máscaras. Quando estamos bem pensamos que não temos dificuldades e somos
violentos, indiferentes. Pelo contrário, a vida, através da dor te dá essa
sensibilidade, mas precisamos de alguém que nos faz tomar conta disso.
Acolher a vida que acontece para mim é a consciência e a
consciência está em todos, mesmo nos mais adoecidos, às vezes, como um grito!
Tem uma poesia de um grande poeta italiano que diz: “Onde
está a vida que perdemos vivendo?” Porque
a vida é vida quando somos conscientes daquilo que está acontecendo e quando
tem a surpresa. Eu tenho que falar da consciência na saúde mental em um
congresso e aqui eu tenho um testemunho disso.
Muito obrigada pela aula”.
Marília Hormanez
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Marília Hormanez
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