Grupo Comunitário do dia 16 de março de 2012


          Hoje o encontro foi diferente, aconteceu em outro horário e contou com rostos novos que formaram um grupo numeroso com cerca de cinquenta pessoas. Entre elas havia como convidada a Maria Teresa Ferla, diretora de um serviço de Saúde Mental em Milão, na Itália.
       O encontro seguiu como de costume, a primeira parte foi iniciada por um poema muito bonito composto por uma das integrantes do grupo chamado: “Se meu corpo fosse um poema o que eu diria?” Ao declamar o poema ela nos contou um pouco de sua história como mãe de um paciente e nos comoveu com a força que demonstrou através da busca de suporte e conhecimento. O coordenador nos chamou a atenção para essa busca como uma forma da vida acontecendo.
            Outro participante trouxe uma música da banda Os Paralamas do Sucesso. Ele sublinhou os versos:
 “Eu hoje joguei tanta coisa fora
            Eu vi o meu passado passar por mim
            Cartas e fotografias gente que foi embora
            A casa fica bem melhor assim”


           E contou que fizeram com que se lembrasse do que sua irmã que sempre dizia sobre deixar para trás tudo que fosse ruim para que outras coisas boas pudessem vir. Ele comentou: “A casa é como se fosse a gente e vamos jogando as idéias, as mágoas embora”. 
            Esse momento inspirou outra fala: “A música que o Henrique trouxe, chamou minha atenção porque veio de encontro com uma coisa que estou vivendo (...)”. Ele nos contou em seguida sobre a descoberta que havia feito nos últimos dias de características pessoais que o incomodavam, mas que ele tinha deixado “estagnado” e falou sobre a decisão que tinha tomado, havia poucos dias, de mudar. Fez referência ao verso: 
  
            “Tendo a lua aquela gravidade aonde o homem flutua
            Merecia a visita não de militares,
            Mas de bailarinos
            E falou de como podemos usar nossa criatividade para fazer as coisas diferentes e inclusive para superar aspectos nossos que sempre foram de um determinado jeito.
         Outro participante trouxe um poema de sua autoria chamado Cadência
         O coordenador comentou: “Esse poema nos ajuda a entender um pouco do trabalho que fazemos aqui. As estrelas estão sempre aí, a nossa vida está sempre acontecendo, mas precisamos do grupo pra nos ajudar a perceber isso”. Disse, então, que a poesia só foi feita porque aquele participante soube olhar para as estrelas e que nós podemos passar anos sem vê-las, mesmo elas estando sempre aí, por isso esse era um dos objetivos do nosso trabalho, aprender a olhar.
            Uma das participantes encorajou a todos em seguida a não deixarem de acreditar, pois, segundo ela, é possível encontrar essas estrelas mesmo quando a escuridão está permeando as nossas vidas. Ela relatou emocionada a sua experiência de melhora da doença: “O sol brilhou, a estrela brilhou e nós estamos felizes pelo que está acontecendo”.
            No decorrer do grupo outras estrelas surgiram, o trabalho de uma ex-paciente, que tem ajudado a aumentar sua auto-estima; um momento difícil de retorno para a cidade com suas escolhas e desafios se dando como um “grito de independência; a sensibilidade de um paciente que tocou uma das funcionárias a ponto de afastar seu mau humor; a alegria de uma mãe ao ver seu filho conseguindo prosseguir com os estudos; momentos difíceis acompanhando o pai com problemas na saúde, mas que trouxeram descobertas.
            O grupo chegou ao fim com muitas contribuições, trocas sinceras e descobertas que tocaram os presentes. A convidada Maria Teresa fez comentários sobre sua experiência como participante e trouxe um agradecimento humilde e comovente

            “Eu que vim da Itália para falar do sofrimento psíquico, vi uma esperança... de pessoas que acreditam no encontro, na relação e que, em particular, acreditam que no sofrimento mental tem algo a mais.
           O sofrimento nos faz ser mais autênticos, nos tira as máscaras. Quando estamos bem pensamos que não temos dificuldades e somos violentos, indiferentes. Pelo contrário, a vida, através da dor te dá essa sensibilidade, mas precisamos de alguém que nos faz tomar conta disso.
            Acolher a vida que acontece para mim é a consciência e a consciência está em todos, mesmo nos mais adoecidos, às vezes, como um grito!
            Tem uma poesia de um grande poeta italiano que diz: “Onde está a vida que perdemos vivendo?” Porque a vida é vida quando somos conscientes daquilo que está acontecendo e quando tem a surpresa. Eu tenho que falar da consciência na saúde mental em um congresso e aqui eu tenho um testemunho disso.
            Muito obrigada pela aula”.
                                         
                                                                                                                            Marília Hormanez
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2 comentários:

  1. Quanta coisa boa! Que encontro rico e cheio de sabedoria!
    Gosto muito dessa música! Além de recordar pessoas muito queridas, me faz pensar em tudo o que vivi,... o que deixei p/ trás e as tantos momentos e pessoas que foram embora por uma exigência do tempo...

    “A casa é como se fosse a gente e vamos jogando as idéias, as mágoas embora”

    Este pensamento me fez lembrar de um filósofo...
    "Nossa alma é uma morada. E quando nos lembramos das "casas", dos "aposentos", aprendemos a "morar" em nós mesmos. Vemos logo que as imagens da casa seguem nos dois sentidos: estão em nós assim como nós estamos nelas." (Gaston Bachelard - a poética do espaço)
    Ambos muito sábios! :)

    Parabéns pelo blog! Encontros assim merecem mesmo serem compartilhados!

    Seria possível compartilhar o poema “Se meu corpo fosse um poema o que eu diria?” ?

    Abraços,
    Carol.

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  2. Oi Carol, obrigada por participar do nosso blog com seu comentário.
    A autora do poema, nos enviou ele para que compartilhassemos aqui:


    "Se meu corpo fosse poema o que ele diria:

    Diria que é como uma onda do mar;
    Desliza de um lado para outro;
    De baixo para cima;
    Às vezes agressivo;
    Às vezes calmo;
    Às vezes parado;
    Às vezes frio;
    Às vezes quente;
    Conforme o fluir da vida
    Vida é movimento
    Movimento é estar em contato com o corpo
    Corpo triste, alegre, vibrante
    Assim, faz a dança da vida.
    Construindo afetividade, criatividade, vitalidade, sexualidade e transcendência.
    Transcender é entrar em contato com o Universo
    Assim, constrói-se o Eu.
    Eu sou o que sou
    Este corpo traz histórias!"

    Sun Ju Szu

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