Grupo 26 de março de 2013


        Festa sem salgadinhos! Ou melhor: Tem salgadinho sim! Aqui um alimenta o outro! O cardápio é variado!

Hoje eu fui ao Grupo Comunitário depois de muito tempo sem poder ir por causa das aulas na faculdade que batem com o horário. O primeiro momento foi o SARAU, onde cada um pode partilhar música, poema, alguma frase ou texto que foram preciosos e que despertaram o desejo de levar para o grupo. Eu li uma música de Nelson Cavaquinho que se chama Minha Festa:

Graças a Deus,
Minha vida mudou
Quem me viu,
Quem me vê
A tristeza acabou
Contigo aprendi a sorrir
Escondeste o pranto de quem sofreu tanto
Organizaste uma festa em mim
É por isso que eu canto assim.

O autor do livro que citava a letra dizia (e eu aproveitei para ler também): Em Minha Festa a vida aparece como acontecimento de encontros e descobertas. Este samba é de gratidão e amor pelo encontro que poucas vezes é expresso na música brasileira. Tinha pensado em trazer aquela música porque me lembrava de como sempre o grupo me proporcionava essa festa!
Pediram para que eu explicasse melhor por que uma festa se lá no grupo não tinha salgadinho, nem balões, nem doces. Disse a eles que naquele dia mesmo isso tinha ficado claro pra mim porque logo que acordei estava chovendo e por um momento pensei que poderia dormir ao invés de ter o trabalho de ir até o Hospital Dia com aquele tempo. Acabei levantando e me arrumando, mas minha certeza de que deveria ir por pouco não se foi quando perdi o ônibus, tendo que ir à pé na chuva. Havia algo mais forte que me arrastava apesar do mau humor. Quando estava chegando lá avistei minha amiga com quem combinei de ir junta e senti uma grande alegria por ter acordado. Essa alegria virou definitivamente uma festa quando encontrei na sala de espera a Emiliana, companheira de grupo que eu não via há muito tempo. Entendi que a festa acontecia em mim naquele momento, e estando com tantas pessoas que eu não conhecia, mas que estavam ali comigo! Como a Malu disse me corrigindo: "Aqui é uma festa sim! Tem salgadinho sim, porque aqui um alimenta o outro: o cardápio é variado!". O Grupo foi mesmo esta festa! Emiliana nos trouxe uma música de Roberto Carlos, dizendo traduzir o que ela sentia sempre no Grupo:
 
Quando eu estou aqui
Eu vivo esse momento lindo
Olhando pra você
E as mesmas emoções
Sentindo...
São tantas já vividas
São momentos
Que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui...
Amigos eu ganhei
Saudades eu senti partindo
E às vezes eu deixei
Você me ver chorar sorrindo...
Sei tudo que o amor
É capaz de me dar
Eu sei já sofri
Mas não deixo de amar
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...
São tantas já vividas
São momentos
Que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui...
Mas eu estou aqui
Vivendo esse momento lindo
De frente pra você
E as emoções se repetindo
Em paz com a vida
E o que ela me traz
Na fé que me faz
Otimista demais
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...
Ela então contou a todos como vem participando do Grupo há três anos! Guardando os folhetinhos com carinho junto com uma história da sua vida! De fato, com ela eu também vivi tantas emoções! Chorei e sorri!
Malu aproveitou o momento e ajudou a trazer ainda mais beleza para a nossa festa. Distribuiu para todos um papelzinho com uma foto de dois idosos abraçados e a seguinte frase ao lado: A vida não é medida pelas respirações que tomamos, mas pelos momentos que tiram o nosso ar. Quantos momentos que "tiram seu ar" você vem se permitindo viver? E nos contou a história daquele casal: ele possui um diário que conta sua história desde o primeiro encontro com sua esposa, que agora sofria de Alzheimer não recordando mais de nada. Ele, com um amor que havia tocado primeiro Malu e agora todos nós, ia todos os dias contar a ela trechos do diário e da caminhada que haviam feito naqueles 70 anos de casados. Ela nos disse: “Quero aprender com Jack a amar assim”. Era um pedido sincero que colocado ali entre nós, nos fazia desejar junto. Disse-nos ainda como Jack tinha a ajudado a fazer um encontro bonito com o filho na noite passada, quando lembrando daquele amor infinito, resolveu contar a ele toda a sua história, as dificuldades, as alegrias! No fim, ele havia lhe dito que percebia o quanto ela o amava por lembrar de tudo daquele jeito.
Como vocês podem ver, muitos salgadinhos estavam sendo distribuídos ali! O final da festa tinha deixado no ar muitos balões que espalharam cor e companhia a quem lá esteve. Não pude deixar de levar e oferecer aquela festa o dia todo, para quem eu encontrei e depois, para quem puder ler este blog. 
O gosto ainda permanece! Obrigada a todos!
Giovanna
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O convite para prestar atenção na vida pressupõe uma espera por algo que a vida pode apresentar de positivo. Esta proposta movimenta o Grupo Comunitário e, repetida a cada semana, nos ajuda a internalizar uma adequada expectativa diante de nós mesmos e dos acontecimentos: expectativa de festa.
Uma perspectiva presente logo na primeira música trazida ao grupo e compreendida enquanto possibilidade de encontrar as pessoas. Fato confirmado por outra integrante: “O grupo é gente alimentando gente”.
Compreendemos melhor isso, a partir da história lida na internet e contada por uma participante:

O inglês Jack Potter não quer que sua esposa Phyllis esqueça o amor que os une há mais de 70 anos. Sabendo que Phyllis sofre de demência e falta de memória, o homem visita todos os dias a casa de repouso na cidade de Rochester, Inglaterra, e lê para ela o diário que guarda desde o dia em que se conheceram.

O inglês, de 91 anos, disse ao jornal Daily Mail Online que lembra exatamente do momento em que os dois se cruzaram, num baile. Foi em 1941 (casaram em 1943) e no diário escreveu: “Foi uma noite muito agradável. Dancei com uma garota muito legal. Espero encontrá-la novamente”.

Esses e outros momentos, como o casamento, as férias, as fotografias e todos os momentos partilhados a dois, estão nesse diário que Jack faz questão de ler para sua esposa demente. Apesar de debilitada, Phyllis se esforça para abraçar o marido. Eles festejaram 70 anos de casamento.

O que me tocou não foi somente esta história contada no grupo, mas sobretudo a conclusão de quem contou: “Eu queria muito saber amar como este cara”. Ela trouxe ainda uma filipeta, com a qual presenteou a cada integrante:

A vida não é medida pelas respirações que tomamos,
mas pelos momentos que tiram nosso ar!

            Mais uma vez fiquei tocado não somente pela frase, mas pelo comentário dela: “A gente precisa ficar sem ar um pouco mais de vezes. Essa falta de ar momentânea faz com que o cérebro funcione melhor, o coração bata mais forte e a gente se situe melhor perante a vida”.
Algo semelhante foi relatado no grupo por um estudante, diante da identificação e surpresa com uma professora que conheceu em um programa de TV. Ele contou que ao ouvir aquela entrevista sentiu como se a pessoa tivesse colocado “fogo” nele, desligou a TV e quis estudar...
Ao final do grupo, percebia que algumas pessoas tinham suas dificuldades e sofrimentos, porém possuíam este “material inflamável”, capaz de “pegar fogo” com algo que encontravam. Desta forma, era possível até mesmo falar em festa, como disse uma participante, justificando seu retorno ao grupo, depois de um período ausente: “Senti falta da festa que vivi aqui dentro”.
Sergio

Ilustração:
Foto de Jack com a esposa e foto do diário.







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