Festa sem salgadinhos! Ou melhor: Tem salgadinho sim! Aqui um alimenta o
outro! O cardápio é variado!
Hoje eu fui ao Grupo
Comunitário depois de muito tempo sem poder ir por causa das aulas na faculdade
que batem com o horário. O primeiro momento foi o SARAU, onde cada um pode
partilhar música, poema, alguma frase ou texto que foram preciosos e que
despertaram o desejo de levar para o grupo. Eu li uma música de Nelson
Cavaquinho que se chama Minha Festa:
Graças a Deus,
Minha vida mudou
Quem me viu,
Quem me vê
A tristeza acabou
Contigo aprendi a sorrir
Escondeste o pranto de quem sofreu tanto
Organizaste uma festa em mim
É por isso que eu canto assim.
O autor do livro que
citava a letra dizia (e eu aproveitei para ler também): Em Minha Festa a
vida aparece como acontecimento de encontros e descobertas. Este samba é de
gratidão e amor pelo encontro que poucas vezes é expresso na música brasileira.
Tinha pensado em trazer aquela música porque me lembrava de como sempre o grupo
me proporcionava essa festa!
Pediram para que eu
explicasse melhor por que uma festa se lá no grupo não tinha salgadinho, nem
balões, nem doces. Disse a eles que naquele dia mesmo isso tinha ficado claro
pra mim porque logo que acordei estava chovendo e por um momento pensei que
poderia dormir ao invés de ter o trabalho de ir até o Hospital Dia com aquele
tempo. Acabei levantando e me arrumando, mas minha certeza de que deveria ir
por pouco não se foi quando perdi o ônibus, tendo que ir à pé na chuva. Havia
algo mais forte que me arrastava apesar do mau humor. Quando estava chegando lá
avistei minha amiga com quem combinei de ir junta e senti uma grande alegria
por ter acordado. Essa alegria virou definitivamente uma festa quando encontrei
na sala de espera a Emiliana, companheira de grupo que eu não via há muito
tempo. Entendi que a festa acontecia em mim naquele momento, e estando
com tantas pessoas que eu não conhecia, mas que estavam ali comigo! Como a Malu
disse me corrigindo: "Aqui é uma festa sim! Tem salgadinho sim, porque
aqui um alimenta o outro: o cardápio é variado!". O Grupo foi mesmo esta
festa! Emiliana nos trouxe uma música de Roberto Carlos, dizendo traduzir o que
ela sentia sempre no Grupo:
Quando eu estou aqui
Eu vivo esse momento lindo
Olhando pra você
E as mesmas emoções
Sentindo...
Eu vivo esse momento lindo
Olhando pra você
E as mesmas emoções
Sentindo...
São tantas já vividas
São momentos
Que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui...
São momentos
Que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui...
Amigos eu ganhei
Saudades eu senti partindo
E às vezes eu deixei
Você me ver chorar sorrindo...
Saudades eu senti partindo
E às vezes eu deixei
Você me ver chorar sorrindo...
Sei tudo que o amor
É capaz de me dar
Eu sei já sofri
Mas não deixo de amar
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...
É capaz de me dar
Eu sei já sofri
Mas não deixo de amar
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...
São tantas já vividas
São momentos
Que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui...
São momentos
Que eu não me esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui...
Mas eu estou aqui
Vivendo esse momento lindo
De frente pra você
E as emoções se repetindo
Em paz com a vida
E o que ela me traz
Na fé que me faz
Otimista demais
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...
Vivendo esse momento lindo
De frente pra você
E as emoções se repetindo
Em paz com a vida
E o que ela me traz
Na fé que me faz
Otimista demais
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...
Se chorei ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi...
O importante
É que emoções eu vivi...
Ela então contou a
todos como vem participando do Grupo há três anos! Guardando os folhetinhos com
carinho junto com uma história da sua vida! De fato, com ela eu também vivi
tantas emoções! Chorei e sorri!
Malu aproveitou o
momento e ajudou a trazer ainda mais beleza para a nossa festa. Distribuiu
para todos um papelzinho com uma foto de dois idosos abraçados e a seguinte
frase ao lado: A vida não é medida pelas respirações que tomamos, mas pelos
momentos que tiram o nosso ar. Quantos momentos que "tiram seu ar"
você vem se permitindo viver? E nos contou a história daquele casal: ele
possui um diário que conta sua história desde o primeiro encontro com sua
esposa, que agora sofria de Alzheimer não recordando mais de
nada. Ele, com um amor que havia tocado primeiro Malu e agora todos nós,
ia todos os dias contar a ela trechos do diário e da caminhada que haviam feito
naqueles 70 anos de casados. Ela nos disse: “Quero aprender com Jack a amar
assim”. Era um pedido sincero que colocado ali entre nós, nos fazia desejar
junto. Disse-nos ainda como Jack tinha a ajudado a fazer um encontro bonito com
o filho na noite passada, quando lembrando daquele amor infinito, resolveu
contar a ele toda a sua história, as dificuldades, as alegrias! No fim, ele
havia lhe dito que percebia o quanto ela o amava por lembrar de tudo daquele
jeito.
Como vocês podem ver,
muitos salgadinhos estavam sendo distribuídos ali! O final da festa tinha
deixado no ar muitos balões que espalharam cor e companhia a quem lá esteve. Não
pude deixar de levar e oferecer aquela festa o dia todo, para quem eu encontrei
e depois, para quem puder ler este blog.
O gosto ainda
permanece! Obrigada a todos!
Giovanna
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O
convite para prestar atenção na vida pressupõe uma espera por algo que a vida
pode apresentar de positivo. Esta proposta movimenta o Grupo Comunitário e, repetida
a cada semana, nos ajuda a internalizar uma adequada expectativa diante de nós
mesmos e dos acontecimentos: expectativa de festa.
Uma
perspectiva presente logo na primeira música trazida ao grupo e compreendida
enquanto possibilidade de encontrar as pessoas. Fato confirmado por outra
integrante: “O grupo é gente alimentando gente”.
Compreendemos
melhor isso, a partir da história lida na internet e contada por uma
participante:
O inglês Jack Potter
não quer que sua esposa Phyllis esqueça o amor que os une há
mais de 70 anos. Sabendo que Phyllis sofre de demência e falta de memória, o
homem visita todos os dias a casa de repouso na cidade de
Rochester, Inglaterra, e lê para ela o diário que guarda desde o dia em que se
conheceram.
O inglês, de 91 anos, disse
ao jornal Daily Mail Online que lembra exatamente
do momento em que os dois se cruzaram, num baile. Foi em 1941 (casaram em 1943)
e no diário escreveu: “Foi uma
noite muito agradável. Dancei com uma garota muito legal. Espero encontrá-la
novamente”.
Esses e outros momentos, como
o casamento, as férias, as fotografias e todos os momentos partilhados a dois,
estão nesse diário que Jack faz questão de ler para sua esposa demente. Apesar
de debilitada, Phyllis se esforça para abraçar o marido. Eles festejaram 70
anos de casamento.
O
que me tocou não foi somente esta história contada no grupo, mas sobretudo a conclusão
de quem contou: “Eu queria muito saber amar como este cara”. Ela trouxe ainda uma
filipeta, com a qual presenteou a cada integrante:
A vida não é medida pelas respirações
que tomamos,
mas pelos momentos que tiram nosso ar!
Mais uma vez fiquei tocado não
somente pela frase, mas pelo comentário dela: “A gente precisa ficar sem ar um
pouco mais de vezes. Essa falta de ar momentânea faz com que o cérebro funcione
melhor, o coração bata mais forte e a gente se situe melhor perante a vida”.
Algo
semelhante foi relatado no grupo por um estudante, diante da identificação e
surpresa com uma professora que conheceu em um programa de TV. Ele contou que ao
ouvir aquela entrevista sentiu como se a pessoa tivesse colocado “fogo” nele,
desligou a TV e quis estudar...
Ao
final do grupo, percebia que algumas pessoas tinham suas dificuldades e
sofrimentos, porém possuíam este “material inflamável”, capaz de “pegar fogo”
com algo que encontravam. Desta forma, era possível até mesmo falar em festa,
como disse uma participante, justificando seu retorno ao grupo, depois de um
período ausente: “Senti falta da festa que vivi aqui dentro”.
Sergio
Ilustração:
Foto
de Jack com a esposa e foto do diário.
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