Grupo Comunitário do dia 28 de Fevereiro de 2012


Encontro do dia 28 de fevereiro

Grupo Comunitário de Saúde Mental● terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

 

Hoje no grupo, logo no início, fomos alertados para o quanto o encontro com alguém pode nos ajudar a descobrir algo novo, algo que pode, até mesmo, ter estado sempre do nosso lado, mas que não percebemos. O coordenador nos conta da experiência que teve, minutos antes do início do grupo, ao conversar com uma pessoa e notou o bairro que pode ser avistado da janela do hospital: “E numa conversa despretensiosa eu fui apresentado pra um lugar que tava na minha cara todos os dias e que eu nunca tinha parado pra ver ... para prestar atenção”.

Em nossa primeira atividade, onde buscamos perceber “A Vida Acontecendo” com a ajuda de músicas, poemas e filmes as contribuições foram numerosas. Uma das participantes trouxe um texto que falava sobre Deus, ela comenta: “Eu gosto muito de ler a Bíblia e ouvir música evangélica, por isso que me alivia”. Ouvimos a música que uma participante trouxe na semana passada e o trecho “E mesmo se você perder a si mesmo e não souber o que fazer a lembrança do amor vai te acompanhar”. Em seguida, a lembrança da cena de um filme: o momento em que um dos personagens principais decide se reconciliar com a esposa: “Na hora que ele redescobriu o que era ficar encantado com uma moça, na hora que ele lembrou como era bom ficar encantado com uma mulher, aí ele quis voltar pra casa, voltar para sua esposa”.

Ouvimos ainda, mais três músicas, uma era de uma banda de rock dos anos 80 trazida por uma participante que havia se identificado com a letra. Após ouvirmos a música, um dos participantes comentou: “Eu achei curioso escutar essa música porque ela me lembrou um pouco da trajetória que é sair de casa (...). E a hora que fala ‘eu nunca mais encontrei minha casa’, me lembrou não de um jeito triste, de um jeito feliz, da casa de onde eu saí pra fazer faculdade, minha família já não mora mais lá, já mudaram de cidade, estão em outro lugar”. Outro participante contribuiu: “Muitas vezes a gente não tem mais a casa pra voltar, o tempo não vai voltar, mas é interessante como as lembranças dão essa segurança pra gente continuar”.

A segunda música tocada falava sobre o fim do carnaval o participante que a trouxe disse: “Escutando essa música a gente percebe que dá pra fazer do resto do ano um pouco de carnaval, se a gente conseguir prestar atenção no que tem de azul ali (...). Ser responsável por colocar um pouco de alegria na rotina.

 


 

 

A última música que ouvimos, era um presente que uma das participantes tinha ganhado de outra pessoa do grupo. “Um dia ela trouxe essa música do padre Rossi, ela colocou essa música. Aí eu falei assim, muito bonita, né, e ela falou, olha eu vou fazer um cd e vou te dar. Aí ela me deu e aí eu trouxe pra ouvir hoje”.

 

 

 


 


Uma participante trouxe, ainda, um poema falando da importância de sorrir, depois de ler o texto ela nos contou que havia aprendido a sorrir. Outra participante nos mostra as fotos do carnaval com sua família. “Eu trouxe as fotos pra mostrar porque eu acho que tudo começou aqui, no grupo antes do carnaval a partir da ideia que trouxeram de ver o carnaval como um momento de ser alegre”. Ela nos contou que essa ideia fez com que ela mudasse os seus planos e resolvesse visitar a família ao invés de ficar sozinha em casa, pensando que o carnaval seria chato. “Ele trouxe essa ideia de um jeito que contagiou que eu consegui levar essa alegria, eu levei isso pra casa (...) a sementinha pra isso tudo brotar foi aqui no grupo. O que a gente fala aqui, às vezes, tem um poder que vai muito além do que acontece aqui”. Ouvindo isso, um participante falou, se referindo à música tocada: “Se você não tivesse esse cliquezinho poderia ter sido uma quarta-feira de cinza na segunda, na terça...”


Na segunda atividade, os depoimentos sobre os momentos em que percebemos a vida acontecendo, surge a história do médico atendendo uma mãe que estava desanimada com o filho doente. O vídeo que ele havia visto sobre a obra de Gaudí, uma igreja em construção há mais de cinquenta anos e ainda inacabada, fez com que ele percebesse o que ela estava contando de outro jeito. “Esse novo arquiteto (...) disse: a obra da igreja estava inacabada, mas a vida dele não porque a construção da igreja era o instrumento para que o Gaudí construísse a vida dele”. Inspirado por essa mensagem ele concluiu sobre a mãe: “Ela tava vendo a vida dela como uma obra inacabada, eu faço, faço e não muda nada porque o filho continua doente. Porém a vida dela estava cheia de realização porque a vida dela tá acontecendo quando ela tá cuidando do filho...”

Outra participante contou, emocionada, a carta que recebeu do filho no dia do aniversário do seu casamento. O filho escreveu: “Desde que eu cheguei aqui, eu comecei a aprender a amar vocês (...”). Ela explica que foi uma carta emocionante: “Foi assim muito precioso que a gente não esperava uma coisa dessa porque ele é difícil de verbalizar sentimento e aqui ele aprendeu isso”.

Quase no fim do grupo, uma participante pediu para compartilhar algo que, segundo ela, não poderia deixar de falar. Ela nos contou, então, sobre o seu trajeto para chegar no grupo, tendo que passar por um pedágio sem dinheiro e sobre o “sinal” que teve para prosseguir. “Começou a tocar no rádio, uma coisa que é rara acontecer, uma música do Milton Nascimento, aí eu falei: ‘Opa, vou entrar nessa cidade aqui e procurar um banco (para pegar dinheiro para o pedágio) e aí eu logo achei rápido, dei de cara e vim. E eu tô muito feliz de estar aqui, hoje a vida aconteceu pra mim com todos esses mistérios.”

Finalizando o encontro de hoje, o coordenador recordou a fala de um professor quando visitou o grupo certa vez: “Não é todo dia que a gente encontra a vida oferecida assim, de graça.” e complementou: “O que nutre o grupo não somos nós, o que nutre o grupo é a vida acontecendo. A gente se vale de aprender uma atitude de simplicidade para perceber tudo isso.”

Marília Hormanez

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Hoje acordei muito animada para ir ao grupo, estava ansiosa para chegar lá e mostrar a todos minha alegria. Queria muito agrader-lhes por me ajudarem a voltar a sonhar num momento em que sozinha eu não estava conseguindo...

O grupo começou com nosso coordenador nos convidando para estar atentos para as descobertas que podemos fazer através das músicas, poesias e textos. Ele nos lembra da importância dessas descobertas que nos ajudam a ver a vida acontecendo: “Não queremos viver de uma maneira estúpida, não queremos nos desesperar com a idéia da morte por ver que na verdade não vivemos”.

Uma participante então lê um texto bíblico falando sobre o amor de Jesus pela humanidade e nos fala da importância de sua fé em sua vida. Outra participante leva a música “Talvez o amor” e lê novamete sua tradução. A música nos fala sobre a lembrança do amor sempre presente mesmo quando parecemos perdidos. Ao ouvir isso nosso coordenador nos fala de uma cena do filme “Antes de Partir”, na qual um dos personagem ao se deparar com lembrança do amor redescobre como era bom ter alguém com quem compartilhar, alguém a quem amar e consegue então resgatar o desejo de retornar para casa. Outra participante nos fala emocionada sobre a “sua lembrança do amor”. Ela nos diz que se casou com aquela música, fala de como conheceu seu marido e de ainda estarem juntos tanto tempo depois, parecendo se dar conta naquele momento da preciosidade de tudo aquilo que contava.

Em seguida outra participante traz a música “Um pequeno imprevisto” e fala sobre a importância dessa música na sua vida, por lembrar lhe sua infância, e por se identificar com a música devido ao seu desejo de controlar a vida tentando não sofrer, sem perceber que não existe controle e que quando menos esperamos simplesmente percebemos tudo diferente. Nesse momento me percebi assustada e ao mesmo tempo encantada com a descoberta de como aquela música fazia sentido pra mim. Como eu tinha tentado a vida todo conter o que eu sentia, evitar a mudança por medo da dor, da saudade do que ficava pra traz, sem perceber que a vida flui sempre e só a mudança é permanente. Me percebi então, tão nostálgica lembrando das mudanças da minha vida... Nesse momento outro participante fala de como a música o fez lembrar das mudanças de sua vida, de quando saiu de casa para estudar, da casa antiga que ficou pra traz quando seus pais também se mudaram, dos primeiros dias em Ribeirão Preto iniciando sua faculdade, levando trote na rua... Mas diferentemente de mim, ele fala dessas mudanças com alegria, fala da saudade gostosa de tudo que pôde ser vivido e da satisfação por ter chegado onde está, trazido até aqui por essas mudanças. Através dessa fala ele me apresenta uma nova maneira de olhar pra essas mudanças que sempre me assustaram. Me ajuda a tentar ver a beleza dessas mudanças que nos levam sempre adiante, ao invés de vê-las apenas levando embora o que eu tanto prezava. Outro participante amplia essa idéia falando sobre a permanência de tudo dentro de nós, apesar das mudanças pois temos sempre nossas lembranças, “as lembranças de amor” que nos ajudam a nos reencontrarmos quando estamos perdidos.


 

Outro participante traz a música “ Marcha da quarta de cinzas”, ele nos fala que como aquele era o primeiro grupo após carnaval ficou pensando que assim como diz a música, como seria bom se a alegria do carnaval pudesse se manter viva.


 
Ao ouvi-lo falar sobre a alegria do carnaval, comecei a contar como meu carnaval tinha sido realmente alegre graças a eles. Falei sobre o privilégio de fazer parte de um grupo tão vivo a ponto de me contagiar de forma tão intensa que tornou-se possível carregar aquela motivação e passá-la adiante, construindo algo inédito : “Eu pude sonhar com a minha família, fizemos camisetas...criamos nosso bloco, fomos pra praça e vivemos a alegria do carnaval. Meus pais pela primeira vez na vida foram para um carnaval...Éramos os alegrões, porque a vida é preciosa..

Lembro-me de um momento em que em meio a todos na praça vi meu irmão de costas com a camiseta com a escrita: “ porque a vida é preciosa”, e nesse momento senti um orgulho imenso do nosso bloco...da minha família que abraçou aquela idéia e pode se entregar...do nosso grupo que me ajudou a viver dias tão especiais com pessoas tão especiais pra mim”. Agradeci ao grupo e me percebi muito feliz por estar ali, por fazer parte de um projeto tão único, tão especial, por ver que ali cabia minha alegria, minha emoção... por ver os outros se emocionarem comigo...por poder sentir a vida juntos. Pra mim isto é “a vida acontecendo”.

Nosso coordenador nos fala então sobre como perceber a vida acontecendo nos mobiliza. Ele nos conta também sobre a paciente que ao perceber que sua vida acontecia em cada cuidado com seu filho passa a ver esses cuidados como algo com sentido, assim como o arquiteto que construia a “Sagrada Família” e morreu sem acabá-la podia ver essa como uma obra inacabada ou como A Obra de sua vida...

Encerramos o grupo com nosso coordenador nos falando sobre como a vida nutre o grupo e que essa é a nossa sorte.

Josiane Caetano Fontes

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Grupo Comunitário do dia 14 de Fevereiro de 2012


Encontro de 14 de fevereiro

Grupo Comunitário de Saúde Mental● terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

 

Ali foi COMPARTILHADO, TROCADO e FALADO...

Foi falado de amor... ...com a música ´´Perhaps love´

 

Talvez o Amor

Talvez o amor seja como um local de descanso, um abrigo da tempestade

Ele existe para te oferecer conforto, Ele está lá para te manter aquecido

E naqueles tempos de dificuldade quando você está sozinho,

A lembrança do amor vai te trazer para casa

 

Talvez o amor seja como uma janela, Talvez uma porta aberta,

Ele te convida para chegar mais perto, Ele quer te mostrar mais

E mesmo se você perder a si mesmo e não souber o que fazer,

A lembrança do amor vai te acompanhar

 

O amor para alguns é como uma nuvem, Para alguns tão forte como o aço

Para alguns um modo de vida, para alguns um modo de sentir.

E alguns dizem que o amor está persistindo E alguns dizem que está desistindo

E alguns dizem que o amor é tudo E alguns dizem que não sabem...

 

Talvez o amor seja como o oceano, Repleto de conflito, repleto de dor

Como uma chama quando está frio lá fora, Um trovão quando chove.

Se eu viver eternamente E todos os meus sonhos tornarem-se realidade,

Minhas lembranças do amor serão sobre você...

 

E alguns dizem que o amor está persistindo E alguns dizem que está desistindo

E alguns dizem que o amor é tudo E alguns dizem que não sabem

 

Talvez o amor seja como o oceano, Repleto de conflito, repleto de dor

Como uma chama quando está frio lá fora, Um trovão quando chove.

Se eu viver eternamente E todos os meus sonhos tornarem-se realidade,

Minhas lembranças do amor serão sobre você...

 


A participante que trouxe a letra da música falou:

 

´´eu li essa música que gosto muito e quis trazer porque esse grupo transpira amor, cada um se mostra do jeito que é. Para mim as lembranças de amor e acolhimento são daqui´´

 

Foi falado de se sentir em casa...

 

´´Quando as pessoas estão compartilhando sinceramente a vida a gente se sente perto, familiarizado....se sente em casa´´

E foi assim mesmo que aconteceu duas participantes que estavam ali pela primeira vez disseram como estavam se sentindo a vontade, bem ali...se sentindo em casa...

 

Foi falado de alegria, de carnaval...

 

´´Eu fui no sábado em um ensaio de um bloco de carnaval e me emocionou ver tanta gente ali junto reunido por um único motivo... de estar alegre... é emocionante ver como a gente vibra a ponto de convencer os outros a viver e vibrar junto.´´

Seguindo a fala outra participante

´´nossa você me ajudou a ganhar meu carnaval... eu estava desanimada por que não ia viajar mas agora não...vou aproveitar meu carnaval´´

 

E foi falado o que estava planejado para não ser dito...

 

´´eu não ia falar nada hoje, não estou bem, mas escutando vocês falarem eu vou contar que peguei um ônibus, estava triste, mal, querendo sumir... e um senhor deixou uns papéis com um lembrete...eu nem peguei, nem queria ler... então a mulher do meu lado que havia pegado me estendeu a mão e disse – toma, fica pra você, por que eu já li...e aquilo me ajudou tanto...´´

 

E também foi falado de dor...

 

Uma participante relembra de um outro grupo em que falou da sua dor de ter perdido um irmão, e nos conta emocionada como esses encontros nos grupos a ajudaram a viver aquela dor e diz

´´nem tudo que é precioso é só BOM...”

Seguiu-se o comentário:

 

“...O sofrimento é positivo quando nos abre para a realidade´´

 

Então...

...O grupo começou para mim com um encontro com uma pessoa, até então desconhecida e com seus sentimentos. Ao longo de uma hora e meia, passando por vários e vários encontros, trocas e sentimentos...

...O grupo terminou para mim com ... um encontro comigo e com os meus sentimentos!!!

Eu pude sentir e chorar.... depois que vivi ali com todos... os diversos sentimentos.

E termino com duas frases que foram faladas em algum momento do grupo:

´´O que acho mais fantástico é nossa capacidade de enxergar... A cada momento a gente vê e vive de uma maneira diferente´´

´´A gente vê a realidade ajudado pelo jeito que os outros vêem a realidade.´´

 

Maria Fernanda F. Diniz

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Hoje nosso grupo começou meio tímido, com poucas músicas, poucas poesias. Nesse momento pensei: “Nossa, hoje esse grupo não vai pra frente...”

O grupo foi caminhando e quase como se tivesse vida própria, de repente, me surpreendeu, se transformando num dos grupos mais lindos...

O grupo começou com uma música que descrevia o amor como um lugar seguro. A participante então apontou o grupo como esse lugar seguro, um lugar de amor. Em seguida outra participante falou sobre a poesia encontrada num calendário velho jogado no chão. Nesse momento, alguém falou sobre a importância dessa capacidade de olhar o calendário velho de uma maneira que torna possível encantar-se com ele a ponto de levá-lo para o grupo. Tocada por essa fala, uma participante muda de atitude e lê o poema que não era para ser lido: “Eu não trouxe ele pra ler aqui, mas quando te ouvi fiquei com vontade de ler”.

Comenta-se sobre essa vontade que surge de fazer parte, sobre essa sensação de que é possível fazer parte, sobre essa familiaridade que o grupo é capaz de proporcionar. E que talvez isso seja possível porque estamos ali compartilhando nossas experiências humanas e emoções. Nesse momento pensei que é justamente isto, que é possível se sentir próximo porque ali é possível realmente o sentir, porque ali há espaço para o amor. Lembrei de um quadro que minha mãe tinha quando eu era criança, no qual estava escrito” Sinto-me um pouco em casa lá onde alguém me sorri”. Lembro que todos os dias eu lia essa frase sem entender claramente por que. Finalmente achei o porque, como era bom me certificar que era possível diante de um gesto de amor, de um sorriso passar a se sentir parte, passar a se sentir acompanhado.

O grupo continuou e essa sensação de que ali podia-se estar acompanhado diante das mais diversas emoções permeava o grupo. Uma participante contou sobre um dia em que estava triste e desamparada olhando uma árvore, e de repente um sabiá laranjeira pousou naquela árvore: “foi como se eu tivesse sido transportada para cá por aquele sabiá laranjeira e eu não me senti mais sozinha”. Comenta-se sobre esse poder do grupo de abrir uma passagem através da qual é possível um novo olhar: “pra quem esteve no grupo do ano passado e ouviu a história do sabiá, nunca mais um sabiá laranjeira será visto do mesmo modo”.

Um participante conta sobre sua alegria em assistir ao ensaio do bloco de carnaval “Os Alegrões” e ver tanta gente reunida em torno de um propósito, ficar alegres juntos. Ao ouvir isto pensei: “Meu carnaval esta salvo, estava ali a minha passagem pra conseguir um novo olhar, a partir daquele simples relato”. Eu então disse pra o grupo como eu vinha frustrada por não ter dinheiro pra uma viagem de carnaval, mas naquele momento a frustração foi embora porque percebi que pra ter carnaval basta juntar alegria...

Uma participante fala do grupo como um lugar onde foi cuidada. Numa época em que tudo estava negro e parecia impossível achar uma experiência preciosa pra compartilhar, o grupo ensinou o que era realmente precioso. Ela nos fala de como ela era grata por isso. Olho em volta e vejo olhos brilhando com lágrimas, me percebo arrepiada e me pergunto porque...

Outra participante o mesmo sentimento de gratidão lembra como o grupo recebeu sua imensa dor diante da perda de seu irmão: “Só aqui eu podia ser eu com toda aquela dor”. Era impossível não se emocionar...

Ressalta-se o grupo como espaço pra alegria e ao mesmo tempo pra tão imensa dor, pro sorriso e pras lágrimas, pra tudo que nos move, que nos torna vivos.


O grupo chega ao fim... Mas volto correndo pra casa e com muita empolgação acordo minha irmã dizendo “levanta e vamos comprar a espuma e serpentina... vamos montar um bloco com toda a família e ter um ótimo carnaval”. Ela me responde: “você enlouqueceu”. Eu então disse “não, eu só to viva”. Ela continua dizendo: “isso não vai dar certo, minha mãe nunca pulou carnaval”. Minha mãe se aproxima e diz “depois de velha vou inventar isto”. A discussão continua, eu continuo a falar sobre a emoção de um grupo que se reúne em torno da alegria e em alguns minutos ouço minha irmã dizer “eu vou querer uma peruca azul”, em seguida minha mãe completa “já escolhi um shortinho pra usar”. Nem sei se esse bloco sai, mas nesses minutinhos vi a vida acontecer, assim como vi no grupo. Acho que isto é que me encantada no grupo, que me arrepia... essa transformação que se amplia, essa capacidade de sentir junto e carregar isto aprendendo com a experiência de pessoas tão diferentes.

Josiane CaetanoFontes

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O grupo nesse dia começa com o esclarecimento sobre o objetivo de estarmos ali, iremos encontrar as pessoas atentamente porque “a vida está acontecendo, a gente queira ou não”. Em seguida nos lançamos em um bate-papo, com alguns participantes que escolhemos, sob a perspectiva de perceber a importância contida em uma conversa.

O coordenador nos questiona: “Por que quem chega aqui pela primeira vez pode se sentir em casa?” E acrescenta: “Quando as pessoas estão compartilhando sinceramente o que acontece em suas vidas, isso nos ajuda a ter familiaridade, nos sentimos perto, próximos, em casa, mesmo estando junto com pessoas que a gente nem conhece.” Somos convidados, então, ao segundo exercício, compartilhar fotos, filmes, frases, músicas, qualquer coisa que alguém encontre e ache especial, “pode ser até uma piada, ela pode ser valiosa se nos acorda para a possibilidade de sorrir”.

A primeira a participar distribui a todos um papel com a tradução de uma música dos anos 80 que sempre gostou, mas somente naquela semana conheceu a tradução e ficou muito surpresa com a letra. Um dos versos da música fala sobre se sentir em casa e ela comenta: “Nós chegamos aqui por via do sofrimento, meio torta, mas depois nos sentimos bem, ficamos felizes de saber que temos o grupo. Pra mim o que o torna assim é o amor. Aprendi a expandir isso aqui, dar e receber amor”.

Outra participante traz um texto que tinha lido certa vez no mural de um hospital e achou muito bonito, mas ficou com vergonha de pedir. Só que tempos depois ela foi achar o mesmo texto em sua casa. Comenta-se: “De tudo o que o que as pessoas trazem o que eu acho mais fantástico é a nossa capacidade de enxergar, quantas pessoas passam pelos murais dos hospitais e não conseguem enxergar”. Somos, então, encorajados a ficar acordados ao que pode estar passando por nossas vidas, nos colocamos diante da possibilidade de redescobrir as pessoas e as coisas, juntos.

Outra pessoa começa dizendo que ia ficar “quietinha”naquele grupo, mas que não poderia deixar de falar. Ela nos conta, então, de uma ocasião em que estando muito mal, em depressão profunda, decidiu deixar a sua cidade, mas no caminho um homem subiu no ônibus em que estava e distribuiu uma mensagem que ela guarda até hoje. Ela lê para todos com emoção e comenta, “Aquele homem que entrou no ônibus, não foi por acaso. Eu estava precisando desse abraço”. Eu nem trouxe pra falar aqui, trouxe pra enviar por celular que eu não sei e as meninas iam me ajudar. Mas... essa mensagem foi importante pra mim. Até eu vou xerocar e dar no outro encontro.”

O coordenador comenta que o trabalho que estamos realizando, nos faz perceber que não buscamos ali coisas excepcionais, mas algo que tenha valor para cada um, as coisas simples. Logo, passamos para outro exercício onde compartilhamos os acontecimentos da nossa vida, os momentos em que percebemos que nossa vida está acontecendo.

Um participante começa a nos contar com entusiasmo e detalhes sobre a experiência de ter participado de um bloco de carnaval. “É muito bonito ver tantas pessoas juntas pelo mesmo motivo que é estar alegre.”. Em outro momento comenta: “Quando estamos empolgados a gente vibra a ponto de convencer tanta gente a estar junto”.

Em seguida uma das participantes descreve um momento de chateação em que tinha acabado de brigar com o filho e enquanto o aguardava na aula de equitação vê um sabiá laranjeira e se lembra de um antigo relato de outra participante do grupo sobre aquele sabiá o que a deixa muito feliz e a conforta. Essa fala inspira outras duas pessoas presentes a comentarem, emocionadas, o quanto a experiência de estar no grupo as havia auxiliado a perceber as coisas preciosas da vida nos momentos mais difíceis e o quanto isso possibilitou o crescimento pessoal: “Eu vi a vida acontecendo, eu me tornando, vindo aqui, o quanto eu transpus, o passo que eu dei no sentido de ser.”.

Ao final uma síntese: “As coisas preciosas na nossa vida sempre estão acontecendo, o que precisamos é de ajuda para olhar, perceber e estar junto é o método. Nós nunca começamos o grupo com uma dúvida: Será que está acontecendo algo? Sempre está acontecendo!”. O coordenador nos fala sobre começarmos a ver a realidade, ajudados pelo jeito que o outro a vê e isso se confirma mais uma vez ao final do grupo quando uma das participantes comenta que o depoimento sobre o carnaval mudou a sua visão e que por isso não ficaria mais sozinha em casa e iria visitar seus familiares, pois tinha entendido que o sentido do carnaval é “estar junto e ficar alegre”.

O grupo nesse dia tem muitas outras contribuições sinceras e emocionantes, sendo que ao final pudemos nos despedir, mesmo dos que chegaram pela primeira vez, entusiasmados e nos “sentindo em casa”...

Marília Hormanez

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