Grupo Comunitário de Saúde Mental – 11 de setembro
Grupo
Comunitário de Saúde Mental● terça-feira, 11 de setembro de 2012
O
grupo de hoje seguiu com o tema: A Vida Acontecendo...
Na
entrada do grupo, por entre cumprimentos, recebo a notícia de que uma
participante fará uma cirurgia e irá se ausentar por algumas semanas “pediu
para avisar porque estava com medo de perder o lugar no grupo”. Algo trivial,
mas esta não é já a vida acontecendo? Que alguém reconheça a possibilidade de
estar presente e tenha receio de perder algo que considera precioso. Penso que
ela poderia ter considerado sua presença pouco relevante e concluo que este
pequeno aviso já carrega um significativo valor.
Também
no final do grupo, encontrei uma participante sentida do lado de fora: “cheguei
somente agora, o ônibus quebrou” e mostrou a bolsa com as músicas que tinha
separado para trazer ao grupo. Reconheço que ela fez falta, mesmo antes de ver
o que havia trazido porque sua dedicação e generosidade são o maior presente
para o grupo. Em um mundo marcado pelo “cuido de mim e os outros que cuidem
deles”, não é pouca coisa encontrar alguém sentida por não ter compartilhado
algo com o grupo.
Aliás,
os compartilhamentos são a regra do grupo, sua razão de existir porque
representam pedaços de si oferecidos aos outros.
O
tema da morte esteve presente no grupo de hoje. Veio com o relato surpreendente
de uma pessoa que reconheceu nas mensagens dos netos depositados sobre o corpo
do avô no caixão algo de extraordinário:“Quando eu cheguei no velório, quando
cheguei perto do caixão, o que me chamou atenção, eu quase sorri porque em cima
do corpo tinha quatro bilhetes dos netos cheios de desenhos dizendo pra ele:
“Vô, fica com Deus”, “Eu te amo”... Achei aquilo de uma beleza tão grande, de uma
simplicidade. As crianças olhando para aquela morte, sabem que vão ficar
separadas do avô, mas olhando para aquilo como um fato natural da vida...”
A
história mobilizou o pedido de apoio do grupo feito por uma participante que
esta acompanhando a doença muito grave do pai. Este fato não passou
desapercebido por outro jovem participante. Ouvindo o relato, ele se deu conta
de que tinha se afastado do pai: “Voce falou que seu pai vai morrer e eu
pensei, mas espera ai eu também sei que meu pai vai morrer, só que eu tenho
aquela visão de que vai demorar muito... aí eu lembrei que voltei de férias há
um mês e não falei mais com ele. Eu vou ligar para ele hoje, com certeza... eu
vou ligar para ele”. Esta capacidade de acordar, a partir do depoimento do
outro foi logo percebida e valorizada por uma outra integrante.
Houve
ainda o relato de uma participante que contou de“uma das lembranças mais
belas... a família inteira, todos os filhos e netos acompanhando os últimos
suspiros do avô... Havia paz, a gente estava ali se despedindo....”.
Achei
impressionante verificar que acompanhando relatos de experiências com a morte
percebemos a vida acontecendo. Isto tudo tornou mais compreensível textos que
haviam sido trazidos logo no início do grupo:
O primeiro de Cecília
Meirelles e o segundo de Antoine de Saint Exupéry:
“Tudo é vivo e tudo fala ao nosso redor,
embora com a vida e voz que não são humanas, mas que podemos aprender a
escutar, porque muitas vezes essa linguagem secreta ajuda a esclarecer o nosso
próprio mistério. O vento é sempre o mesmo, mas sua resposta é diferente em
cada folha. Somente a árvore seca fica imóvel entre borboletas e pássaros.
“É apenas com o coração que se pode ver direito: o essencial é
invisível aos olhos”
Sergio
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